segunda-feira, 8 de outubro de 2018

CARTA AO PREFEITO ERNI

Caro Erni: há tempo, impulsionado por saudade e curiosidade, ensaiava te escrever. Mais por curiosidade, compreendes. Afinal, estás num plano para mim estranho, para não dizê-lo misterioso, descrito, pela banda de cá, por dedução, imaginação e fé como maravilhoso. Agora, surgiu um fato ligado ao Musicanto, que não seria justo te ocultar. Antes, porém, de relatá-lo informo que estamos à véspera de eleição presidencial, a qual está mais para guerra que para paz. Bem, tu conheces a frase (senador Hiran Johson, EUA): “Na guerra, a 1ª vítima é a verdade”. É o que está ocorrendo no pleito eleitoral deste ano. Os candidatos se ofendem, mas tangenciam no essencial - menos Boulos, um franco-atirador.
Erni, nas eleições para deputados e senadores repete-se o engodo. Tem parlamentar que se reelege faz muito tempo em cima de nichos eleitorais que ele mesmo, para si, construiu. Qualquer semelhança com Paulo Paim, não é coincidência. Bem, isso não é novidade. E as emendas parlamentares? Essas, nas mãos dos deputados federais e senadores, mantém o mesmo nome do teu tempo terreno: clientelismo. Continuam fazendo compra de votos. O sistema privilegia o grupo com mandato. Quer dizer, também nada mudou.
Ah, mais uma do teu tempo, Erni: política é para profissional. Lembras? Assim sentenciou Tancredo na disputa no Colégio Eleitoral contra Maluf, vitoriando-se com 300 votos. Hoje, Lula é o esperto Tancredo de 1985. De dentro do presídio (Curitiba), onde deverá permanecer por muito tempo ainda, com seu 2º “poste”, o Haddad, está mandando na campanha eleitoral. Tudo em nome da ética, é claro. Bem, da esperteza do Lula tu sabias; e da prisão? É, está preso. Ocorre que, como muitas vezes comentávamos nas rodas de chimarrão, corrupto também se atrapalha.
Outra prática que tu conheceste entre candidatos à reeleição, continua: a divulgação de seu trabalho. Sempre no superlativo! Até o Terra, qualificado e atuante deputado, escorregou. Não é que ele veiculou em seu jornalzinho que, quando prefeito, “internacionalizou o Musicanto e o tornou um dos maiores festivais de música sul-americana ... com recorde de público”! Enfim, este o empurrão que me faltava para te escrever: distorção a fato histórico. Repasse-o a Harry, Adil, Loureiro, Gérson e Nair.
Ora, tu deves lembrar nossa luta na construção do Musicanto Sul-Amaricano. Foi um parto a fórceps para dá-lo à luz internacional. No nome e na prática. Dividido em duas fases com suas realizações simultâneas, uma de shows, outra de músicas inéditas - até para que a respeito informes aos grandes amigos do Musicanto, Sérgio Metz (Jacaré), Aparício Rillo e Loudes Heinze – ao tempo em que cito três presenças internacionais que restabelecem a verdade sobre a formatação do Musicanto internacional desde seu alvorecer: 1º (1983) - Argentino Luna: maior nome do folclore argentino; 2º (1984) - Mercedes Sosa: maior cantora latino-americana, no Estádio Carlos Denardin foi responsável também pelo maior público até hoje no festival; 3º (1985) - Canterini Peloritani: maior Grupo de Folclore da Itália (Sicília).
E, como também deves estar lembrado, com relação às músicas inéditas deu-se, na prática, a internacionalização de imediato: já na 1ª edição, canções sul-americanas foram inscritas, umas se classificando, outras não. À participação de concorrentes com outros sotaques, no 3º Musicanto o jornalista e crítico musical Juarez Fonseca (ZH), escreveu: “A renovação musical, a busca de novas formas dentro da música latino-americana, não é apenas mais uma tendência do Musicanto, mas sua forte característica”.
Erni, enquanto aqui, estarei atento. Na defesa do Musicanto como formatado por LC Borges, com a velha UDN te asseguro: “O preço da ‘verdade’ é a eterna vigilância”.