segunda-feira, 3 de junho de 2019

UMA LUZ DO FIM DO TÚNEL

Posso estar enganado, mas estou enxergando uma luz - tênue, é verdade - no fim do túnel. Só espero que, por ilusão de ótica, não seja um farol ligado de automóvel trafegando em sentido contrário. O que vejo? Uma luz, traduzida em reação contra o uso do glifosato no plantio de soja, milho etc - herbicida nocivo à saúde, quando não, letal. Mais precisamente falo da luta contra a Bayer por Paul François, portador de Linfoma de Hodgkin. O agricultor norte-americano é um dos 13.400 demandantes de ações nos EUA contra a empresa que incorporou a Monsanto. A propósito, na decisão a multinacional produtora do glifosato foi condenada a pagar-lhe US$ 2 bilhões, afora os efeitos secundários à Bayer: perda de valor das ações e críticas pela compra da Monsanto, responsável pelo ingrediente ativo do herbicida mais vendido no mundo.
A notícia - ruim para a Bayer - é aplaudida por quem exige um meio ambiente ecologicamente saudável. No Brasil, o glifosato (Roundup) é considerado imprescindível à produção de grãos, a partir do plantio direto das nossas lavouras. Para a Anvisa (análise de 2018), o princípio ativo do produto “não apresenta características mutagênicas, teratogênicas e carcinogênicas; não é desregulador endócrino e não tóxico para a reprodução”. Com as vênias da Agência, pesquisas independentes indicam ser falácia tal conclusão. Para a USP, a Noroeste/RS, onde o herbicida é usado em profusão, é a Região com maior incidência de cânceres do Brasil. E a morte de abelhas? Bem, como os fabricantes deste e outros agrotóxicos não assumem responsabilidade, concluo: a causa mortis deve ser um suicídio coletivo.
A condenação da Bayer não é a 1ª do gênero; é a 3ª em menos de um ano. Por isso, a reação de pessoas afetadas - no popular, envenenadas -, tendo o Judiciário como repositório de reparação, é um fato positivo a ser incentivado. No foro competente, é claro. É a principal via prática para frear o menosprezo à vida. Mais que isso, torço para que mais ações sejam manejadas, e que não se restrinjam aos EUA. Segundo Delfin Neto, a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. Parafraseando o ex-ministro, das empresas é o caixa. Só assim passarão a focar nos defensivos naturais.
Produzir mais alimentos é um clamor mundial, sim, mas não a qualquer custo. Por isso, alinho-me a quem coloca a saúde em 1º plano, que, para os defensores do herbicida, é o lucro. Mediante subterfúgio, embora não o digam, valem-se de cantilena com retórica social: geração de empregos e impostos. Seu pano de fundo é que o produto é seguro, bastando seu correto manejo. Ora, restringir sua aplicação à área previamente demarcada é ignorar a ação do vento, da chuva e dos próprios insetos.
Por outro lado, como medida cautelar para o futuro, recomendo aos agricultores que usam glifosato a que guardem as notas fiscais da compra do produto e suas embalagens. Serão o começo de provas que um dia poderão servir para instruir ações contra a fábrica dos agrotóxicos. Quem guarda o que não presta, tem o que precisa.
P.S. A política de desarmamento do Japão é a mais antiga do mundo: é de 1558. Nem por isso evitou o ataque em Kawasaki, dia 28/05/19, com 19 mortos e 47 feridos. A lei que desarma as pessoas do bem, é a mesma que facilita a vida dos marginais.