sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

AS BRUMAS DE BRUMADINHO

Em 2015, foi o rompimento da barragem de Mariana com um saldo de 19 mortos, destruição de uma vila de pessoas humildes e de lavouras, contaminação de vários rios, o principal, o Rio Doce que nasce em Minas Gerais, cruza o Espírito Santo e deságua no mar. Na última sexta-feira26, foi o rompimento da barragem de Brumadinho, também em Minas Gerais. Mais uma vez, barragem de rejeitos industriais pertencente ao grupo econômico Vale do Rio Doce. O saldo dos dois desastres: vidas ceifadas, meio ambiente devastado e prejuízos materiais de monta. Pior é que, pela repetição do tragédia em Brumadinho, para nada serviu a tragédia de Mariana.
Mas, o mais grave de tudo, é que a tragédia de Brumadinho era previsível. Portanto, poderia ter sido evitada. Logo, está-se diante de um crime que vai além da culpa – que, neste caso, se caracterizaria por imperícia, imprudência ou negligência - para ancorar no dolo eventual, porquanto, empresa e autoridades vinculadas à barragem, embora sem o desejar, assumiram o risco pelo trágico resultado. Depõe, ainda, contra a Vale ser o 2º acidente em curto espaço de tempo, em circunstâncias semelhantes, o que demonstra que nenhuma cautela foi tomada para afastar o risco que rondava e ronda, sabe-se lá, quantas Marianas e Brumadinhos pelo País.
O Brasil, que já pagou duas vezes pelo mesmo erro, não poderá pagar pelo terceiro erro nada inocente. No entanto, também não é razoável responsabilizar Bolsonaro e Zema pelo acidente de Brumadinho, haja vista que estavam investidos dos respectivos mandatos executivos federal e estadual fazia menos de um mês quando do acidente. Já o mesmo não se poderá dizer em relação a Dilma/Temer (ex-presidentes) e Pimentel (ex-governador), posto que os ex-presidentes e ex-governador estavam no exercício dos seus mandatos quando da tragédia de Mariana (05/11/2015) e depois.
Por outro lado, o País dá sinais de mudanças. Tomara! É como indicam algumas medidas sobre o acidente: força tarefa; prisões; bloqueio de R$ 11 bilhões; presença do governo no local; criação do Conselho de Respostas a Desastres; revisão das barragens. Outrossim, Bolsonaro, que ameaçava desativar o ministério do Meio Ambiente e rever o Acordo de Paris, no episódio de Brumadinho deu uma louvável guinada: mostrou-se defensor do meio ambiente, decidido e solidário com as vítimas.
Mas por que, com Brumadinho, a repetição de Mariana? Porque o crime compensa. Se a Samarco e seus responsáveis tivessem sido condenados pelo acidente de 2015, a tragédia de 2019 provavelmente não teria ocorrido. A propósito, Delfin Neto dizia: “A parte mais sensível do homem é o bolso”. Como no episódio de Mariana, a Samarco, controlada pela Vale, nada indenizou, temos agora a repetição de tragédia, agravada.
O Rio Doce, passados três anos da 1ª catástrofe, continua com a água imprópria para consumo e os peixes que sobreviveram, contaminados. O quadro da dor ensina que meio ambiente não é papo só de ambientalistas, mas compromisso de todos com a vida; que não é tese de sectaristas de esquerda ou direita, mas tese sem ideologia.
As brumas de Brumadinho são as brumas do Brasil: da propina, do oportunismo, do jeitinho ..., mas também da indignação conforme recado das eleições a presidente/18.