A “batata está assando” é um ditado antigo. Tem a ver com o
risco. É o quadro vivido atualmente por Dilma Rousseff. Os brasileiros, exceto ínfimo
percentual, mais do que desaprovam, condenam a administração central. Não sem
razão. Colhe o que plantou. Só para ilustrar, no 1º mês do seu 2º mandato, a
presidente jogou no lixo promessas eleitorais, quando, também, se desnudou o
maior escândalo da história brasileira: o Petrolão. Por esses e outros
indicadores, a paciência se esgotou. Mas, é claro, ainda há quem acredite no
governo. Alguns, inclusive, acham que é armação contra o PT. Daí os protestos
recentes, um a favor, outro contra o governo: o 1º (sexta-feira,13), promovido
pela CUT, MST e UNE; o 2º (domingo,15), pelas redes sociais. O 1º foi pífio; o
2ª foi retumbante, mesmo sem passagens e sanduíche.
O protesto chapa branca (o 1º) fracassou. Isso mostra que os
dias de glória de MST, CUT e UNE se exauriram. É que os dois primeiros
tornaram-se longa manus do PT; o terceiro, do PCdoB. A verdade é uma só: os
três estão domesticados pelo governo. Só a ONG Agência de Desenvolvimento
Social, ligada à CUT, nos primeiros cinco anos do Lula, recebeu do Tesouro
Nacional (dinheiro nosso, portanto) R$ 12.600.000.000,00. Já o MST, também
grato às “bondades” dos governos Lula/Dilma, faz de conta que contesta a
lentidão dos assentamentos e que condena a corrupção. Faço, porém, uma
ressalva: endosso o combate do MST - bandeira secundária - aos agrotóxicos.
Hoje, com a cumplicidade do governo, ingerimos veneno como nunca antes.
Algumas bandeiras dos dois protestos são convergentes: contra
a corrupção e a defesa da Petrobras. No entanto, são convergências enganosas,
limitadas às aparências. Ora, CUT, MST e UNE combatem a corrupção mas apoiam um
governo comprovadamente corrupto; defendem a Petrobras como se o inimigo da
estatal estivesse na oposição. Isso é incoerência. No fundo, o 1º protesto foi
em favor da Dilma. O 2º, contra. Logo, não há semelhanças.
Por outro lado, foram desastrosas as entrevistas de José
Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto, após o protesto. Sem humildade e fora de
tom. Quem, por alguma razão, não os conhecia, deve ter imaginado que eram ministros
da Suíça ou do Canadá, não do Brasil. Em apertada síntese, para eles
protestaram domingo aqueles que não votaram na Dilma no ano passado. Importa,
pois, dizer que o governo não ouviu a voz das ruas.
Na segunda-feira a presidente assumiu a própria defesa.
Enalteceu os protestos como fruto da democracia que ela teria ajudado a
construir. A presidente, outra vez, faltou com a verdade. Dilma nunca lutou
pela democracia. Lutou pela derrubada da ditadura militar para, em seu lugar,
implantar a ditadura comunista sintonizada com Cuba etc. Depois disse que a
corrupção é uma “senhora idosa”. Quanto à idade, sim. Quanto às práticas, não.
Faltou dizer que sempre existiu, porém, que foi institucionalizada a partir do
governo Lula. Essa é a abissal diferença entre antes e depois do PT no poder.
Acuada,
Dilma preparou um pacote anticorrupção. Não vai resolver. Sua única saída está
em fazer a mea-culpa. Mas, para tanto, não poderá dizer que não sabia dos
escândalos. Mea-culpa é grandeza. Grandeza é reconhecer o erro sem transferi-lo
ou justificá-lo com os erros dos outros. Grandeza sem gesto concreto é falácia.
A propósito, Voltaire, filósofo francês, sentenciou: “Os homens erram, os
grandes homens confessam que erram.”