segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Ninguém controla o STF

Uma das minhas preocupações é com a insegurança jurídica reinante no Brasil. Mais grave, porém, é que a falta de segurança repousa na instituição que deveria ser o porto seguro de todos: o STF. A propósito, já escrevi: “Para esse Supremo, continua atual a sentença do imortal Rui Barbosa: ‘a pior ditadura é a do Poder Judiciário, pois contra ela não há a quem recorrer’. De fato, de nada adianta Juízes de 1ª e de 2ª instâncias proferirem densas decisões enquanto o andar de cima continuar a cultivar corruptos de estimação.” Faz anos que sustento que esse problema continuará enquanto não mudar o critério de nomeação de ministros pelo presidente da República. Esse malsinado critério confere poderes plenipotenciários ao Chefe da Nação. Portanto, poderá priorizar, como tem priorizado, o compadresco em detrimento de atributos éticos e/ou intelectuais dos escolhidos submetidos ao Senado Federal, casa onde até medíocres são aprovados com louvor. É o que temos visto: presidentes do Brasil, sob o manto de decisões administrativas com aparente constitucionalidade, diminuíram o STF. E quem poderia declarar essa redução é o próprio STF, de quem ninguém espere gesto de grandeza; o contrário, sim.
A segurança jurídica - pilar de estado democrático de direito - é negada a todo momento por quem deveria ser seu guardião, o STF. Exemplos: a) censura à imprensa no caso de O Antagonista e da Crusué, por noticiarem a ligação do ministro Toffoli com a Odebrecht, identificado como “o amigo do amigo”; b) busca e apreensão no escritório do ex-Procurador-Geral por um não-crime - problema restrito a Janot/Gilmar; c) investigação de cidadãos em sigilo. O Brasil, com esse STF, retrocedeu ao tempo de Franz Kafka (Praga, atual República Tcheca) que descreve em seu romance, O Processo, que o funcionário de um banco, Josef K, é processado quando dois guardas o chantagearam dizendo ter cometido suborno. Sem se submeter a processo, foi condenado por um tribunal misterioso.
O problema não será resolvido enquanto não mudar o critério de nomeação de ministros. A propósito, Celso Melo foi nomeado por Sarney; Marco Aurélio por Collor; Gilmar por FHC; Cármen Lúcia, Lewandowski e Toffoli por Lula; Fux, R. Weber, Barroso e Fachin por Dilma; e Alexandre por Temer. Tentativas de mudar foram feitas, através de Emenda Constitucionais, uma pelo senador Lasier Martins. Sem êxito. Há, como dizia Brizola, “interésses” em manter o status quo. Com isso, qualificação e independência para julgar continuarão em 2º plano. Enfim, o STF é uma Torre de Marfim. Não dá satisfação - vide gasto de R$ 1.1 milhão em comida/bebida que o povo (99,9%) se conhece é por fotografia.
J. R. Guzzo, colunista da Veja desde 2008, acaba de se demitir da mesma porque teve seu artigo semanal, que fazia uma radiografia dos ministros do STF, censurado pela revista. Em seu comentário de última página, o jornalista dizia que só as aposentadorias dos atuais ministros salvará o Pretório Excelso, o qual, uma vez renovado “Não estará sujeito, como acontece hoje, à ditadura de um STF que inventa leis, censura órgãos de imprensa e assina despachos em favor de seus próprios membros.” Sim, mas isso só começará a acontecer em 2020. Porém, sem mudar o critério em vigor, tudo é possível, inclusive o presidente Bolsonaro nomear um dos seus filhos para a 1ª vaga na Corte. Sem me comprometer com a tese (presidente nomear filho), pergunto: na comparação com Toffoli, Lewandowski, Gilmar ... o filho do homem seria pior?

Diversos, antes que percam a atualidade

Lei de Improbidade. Os desmandos de administradores públicos é que levaram à edição das leis de Improbidade Administrativa e de Responsabilidade Fiscal. Ambas saneadoras. Porém, a Lei de Improbidade contém excessos. Pobres prefeitos! Tudo é crime. Agora, a Câmara Federal estuda flexibilizá-la. Uma das alterações: os atos de omissão ou erro por negligência, imprudência e imperícia deixariam de ser ímprobos, permanecendo hígida com a má-fé. Hoje, confunde-se gestor sem preparo (culpa) com gestor desonesto (dolo). Faz alguns anos, Alcides Vicini sofreu ação de improbidade pelo “crime” de entregar aos beneficiários a gestão de projeto habitacional financiado pela CEF. Com isso, o custo das casas caiu pela metade - com o mesmo dinheiro edificou o dobro de casas. Mas, para o MPF, o material usado seria de qualidade inferior. Logo, o prefeito teria infringido a Lei 8.429. Absolvido, a Procuradora recorreu e foi a POA “fiscalizar” o julgamento. A absolvição foi ratificada, mas quem reparará o dano?

Sínodo dos Bispos. Aqui, ao me referir ao Sínodo dos Bispos em realização no Vaticano, manifestei preocupação com alguns de seus temas. Por exemplo, a conversão dos índios, violentando as tribos que têm seus deuses na natureza e nos espíritos de antepassados. Mas, na abertura do conclave, o Papa Francisco deu o tom: a cultura e a fé das tribos devem ser respeitas. Isso, no entanto, não me impede de criticar o conclave por discutir a Amazônia, excluindo do debate os países que a compõem.

Óleo no mar. Todos os estados do Nordeste foram atingidos por óleo - oriundo da Venezuela, sem, no entanto, se saber se o derramamento no mar foi por dolo ou culpa. O estranho é o silêncio de ambientalistas de plantão. Se essa tragédia fosse, por exemplo, com óleo extraído pela Petrobras, os protestos já teriam incendiado Brasília e se espalhado pelo mundo. Ah, saquei: não haverá impacto ambiental por ser óleo produzido em país sob ditadura. É desastre, porém, bonzinho. Com a palavra o Macron.

Hortigranjeiros. A edição presidida por Aldir Mallmann foi sucesso. Criada pelo prefeito Erni, o espaço que a Expointer passou a destinar ao agronegócio familiar, aqui existe faz anos. A autossuficiência em hortifrúti e a produção de orgânicos, são os desafios do novo presidente, Marcos Servat. Consumidores de produtos ecológicos existem. Para Paulinelli, criador da Embrapa, com pesquisa os agrotóxicos podem ser substituídos por defensivos naturais. O Chile produz maionese sem ovo; em 2021, a carne começará a ser substituída por proteína de laboratório. É a cadeia da produção migrando do campo para os laboratórios. Consolidada, a feira deve buscar novas metas.

Feira do Livro. Foi mais uma edição exitosa. Sua importância vai muito além da comercialização de livros: desperta o gosto pela leitura, fustiga o surgimento de escritores, permite intercâmbio entre culturas diferentes ... A 15ª edição, sob o comando do Carlos Alberto Nasi, assessorado por Luconi, Luís Artur, Borella etc foi perfeita. Os olhinhos das crianças, ao escolherem seu livro custeado pelo Vale-Livro, brilham. É um pequeno grande investimento do Município de efeito multiplicador. É como todo incêndio que, sem que se preveja como terminará (linguagem de bombeiro), sempre começa com uma fagulha ou faísca. A Feira do Livro é o legado cultural maior do prefeito Alcides Vicini.

domingo, 13 de outubro de 2019

A Lava-Jato sob ameaça

Quem achava que cadeia para pobre, preto e prostituta era página virada, se enganou. A Lava-Jato teve e tem esse propósito, mas luta contra forças poderosas. É que, pela 1ª vez, foram (são) processadas pessoas do andar superior. Em consequência, conspiram contra esse marco histórico, entre outros Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma e Temer. Também são contra a Lava-Jato, dirigentes de partidos políticos, vários ex-parlamentares e atuais, ex-ministros, ex-governadores, e nesse caminho tortuoso, a fila segue. Mas, graças à Lava-Jato, o Brasil conheceu notáveis policiais, promotores e juízes. Isso despertou dois sentimentos: esperança e ira. O povo, cansado de ver o país roubado, vibrou, mas esqueceu, conforme C. Drumond de Andrade, que “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra do meio do caminho”: o STF. Seus ministros, que deveriam ser os guardiões da CF, são, salvo exceções, a segurança daqueles que os nomearam: Celso de Melo nomeado por Sarney; Marco Aurélio por Collor; Gilmar por FHC; Cármen Lúcia, Lewandowski e Toffoli por Lula; Fux, R. Weber, Barroso e Fachin por Dilma; e Alexandre por Temer, isto é, todos chegaram ao STF por indicação política. O critério, embora constitucional, submete o candidato à Corte ao beija-mão. Nessa toada, Marco Aurélio, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Lewandowski, Toffoli e Alexandre, pobres tecnicamente, não escondem a gratidão aos bondosos padrinhos e ao Senado.
A decisão do STF - acerca de alegações finais dos réus delatados, anulando feitos já concluídos - prioriza a capa do processo em detrimento do seu conteúdo, porque o objetivo é livrar criminosos do colarinho branco. Sem sofisma, vamos combinar: o caso Bendine é mais um passo para acabar com a Lava-Jato e, de quebra, transformar bandidos em heróis e promotores e juízes sérios em vilões. A recuperação de ativos pela Lava-Jato (R$ 25 bilhões em 5 anos), considerando apenas os acordos fechados, superando o orçamento do min. da Infraestrutura (R$ 18,7 bilhões), é exemplo para o mundo, mas não para nossas elites políticas e econômicas e para os ministros do STF.
O STF, com exceção dos ministros Edson Fachin, L. R. Barroso e Celso de Melo, é tecnicamente pobre e, pior, prepotente, destacando-se, neste quesito, Gilmar Mendes, Roberto Lewandowski, Dias Toffoli e Marco Aurélio. Para esse Supremo, continua atual a sentença do imortal Rui Barbosa: “a pior ditadura é a do Poder Judiciário, pois contra ela não há a quem recorrer”. De fato, de nada adianta Juízes de 1ª e de 2ª instâncias proferirem densas decisões enquanto o andar de cima continuar a cultivar corruptos de estimação.
A Lei Abuso de Autoridade contra policiais, promotores e juízes, inspirada no sentimento de retaliação do sen. Renan Calheiros, com os vetos do pres. Bolsonaro derrubados no parlamento, amolda-se a uma cartilha da Itália. Lá, quando a operação Mãos Limpas chegou nos criminosos do colarinho branco, foi abafada. Com isso, mais de 40% dos acusados, em processamento de feitos, portanto, alcançados pela prescrição “graças às sutilezas processuais ou modificações legislativas, feitas sob medida”, como dizem em “Operação Mãos Limpas” seus autores Gianni Barbacetto, Peter Gomez e Marco Travaglio. Logo, qualquer semelhança, no caso, entre Itália e Brasil não é coincidência; é manobra absolutória. Ora, quem mandou a Lava-Jato ir além de pobres, pretos e prostitutas!

terça-feira, 8 de outubro de 2019

A ética, a cultura e a benquerença perderam um ícone

Na semana passada, ao folhear os jornais do dia, soube da morte do Dr. Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Que perda! Tive a sensação de perder um familiar meu. As pessoas mais antigas de Santa Rosa conheceram o Dr. Ruy. As mais jovens, provavelmente não, exceto aquelas ligadas ao mundo jurídico. Eu que o conheci, registro, guardadas minhas limitações, que o ministro Ruy marcou época também em Santa Rosa. Natural de Iraí, na década de 1960, nesta cidade começou a trabalhar como secretário de Administração na gestão do prefeito Carlson; depois foi Advogado, Professor e Promotor de Justiça, afora ter atuado intensamente em ações comunitárias; no Rotary, inclusive.
Ruy, indicado pelo Ministério Público, foi desembargador do Tribunal de Justiça/RS, depois ministro do Superior Tribunal de Justiça. Aposentado, em POA passou a atuar no voluntariado. Ao ser detectada a doença que o levou a óbito, se recusou ser tratado na Santa Casa, da qual era vice-Provedor, por uma razão pouco comum: o temor de que, por essa ligação com a instituição, viesse a receber tratamento diferenciado. Isso tem nome: ÉTICA, valor tão escasso faz tempo. Que exemplo de vida! Que falta fará!
Tive o privilégio de ser aluno do professor Ruy, na cadeira de Direito Constitucional na ex-Fadisa, de Santo Ângelo, quando o deslocamento daqui à faculdade (60 km) era por ônibus, por estrada de chão, no qual viajavam alunos e mestres, entre estes o saudoso Ruy. Como professor, certa feita deu-nos um tema para pesquisa, valendo nota. Um dos colegas, que omito o nome, encontrou um parecer de outro mestre sobre o assunto. Imaginando que ninguém o conhecesse, o copiou “ipsis litteris”. O seu autor, que também omito o nome, ao término do trabalho, com certo pedantismo, sempre concluía seus pareceres com a expressão “Salvante melhor juízo, é meu parecer”. Pois o colega de curso copiou inclusive com o “Salvante ...” Ruy, ao ler a “pesquisa”, percebeu a farsa. Talvez indignado, mas sem perder o humor, consignou conhecer parecer e autor, concluindo com sua peculiar ironia inteligente: “Salvante melhor juízo, a nota é zero”.
Faz tempo que proponho que os filhos de Santa Rosa, naturais ou adotados, destaques fora daqui - e que são muitos, nem todos conhecidos - sejam homenageados quando de eventos locais: Musicanto e Fenasoja ou na Semana do Município. Também proponho que a homenagem se dê em vida. Esclareço: não estou sendo original. A ideia copiei de Cachoeiro do Itapemirim. Na terra de Roberto Carlos, inserido nos festejos do aniversário do município, a cidade capixaba criou “O Dia do Cachoeirense Ausente”.
O presidente Odaylson Eder, da ACISAP, no ano passado, acolheu minha sugestão de trazer para seu consagrado “Almoço de Ideias”, para palestrar, Nery Taborda da Silva - nascido no Laj. Paulino, criado na Vila Planalto - hoje diretor para a América Latina da Cia. Generali de Seguros. Quer dizer, um filho da terra que faz sucesso fora, que poucos sabiam. Santa Rosa, de tantas iniciativas pioneiras, tem essa lacuna a preencher.
Pedindo vênia pela omissão de Santa Rosa à importância do querido Ruy, apresento condolências pelo passamento desse santa-rosense ausente - usurpando prerrogativas do prefeito, mas sei que sem sua oposição - à esposa Diva, sua companheira de sempre; e aos seus filhos Ruy Neto, Juiz de Direito, Alice, Ana e Vera, esta nascida nesta cidade.

Às vezes, quem perde, ganha

Vinte de Setembro é a data em que que se comemora o início de uma revolução derrotada. Calma! Às vezes, quem perde, ganha. É o caso da Revolução Farroupilha. Os republicanos sul-rio-grandenses, mesmo derrotados pelo Império, ganharam. Essa aparente contradição me levou a analisar, também, situação inversa - uma aparente vitória, traduzida, porém, em derrota: o Memorial Luiz Carlos Prestes, em POA. Ora, ao homenagear o líder do Partido Comunista, seus idealizadores não pensaram na democracia nem na conduta do homenageado. L.C. Prestes, secretário-geral do PC, foi responsável pelo levante de 1935 - por isso, um artífice do Estado Novo/37. Outrossim, o Memorial coincide com a retirada do nome Castelo Branco da principal via de acesso à capital, por proposta do ver. Pedro Ruas (Psol), a qual passou a denominar-se Legalidade e Democracia. Felizmente, a Justiça determinou o retorno ao nome original - Castelo Branco - de um herói da 2ª Guerra. Pior: se a moda pegasse, milhares de vias e espaços públicos de cidades teriam de retirar o nome do ex-presidente Getúlio Vargas.
Sérgio da Costa Franco, procurador de justiça, historiador de nomeada, homem de esquerda (não raivosa), sobre Luiz Carlos Prestes escreveu: “Depois, no auge da fama de grande tático, quando dele se esperava que assumisse a chefia militar da revolução de 1930, defraudou as esperanças, desviou os mil contos de réis que recebera dos líderes do movimento e aderiu ao comunismo de Stálin. As ferramentas do PC, o culto à personalidade, mais o texto brilhante de Jorge Amado, criaram para ele a imagem do Cavaleiro da Esperança, que, por algum tempo, seduziu parcela da juventude e da intelectualidade brasileiras (inclusive este desavisado articulista, quando muito jovem).”
Prestes foi contraditório. Sua mulher Olga Benário (alemã de origem judaica), grávida, foi deportada para a Alemanha onde foi morta em câmara de gás. No entanto, logo depois, na eleição de 1950, Prestes apoiou Getúlio Vargas, seu algoz na extradição. Como secretário-geral do PCB, defendeu a ditadura comunista até o fim da vida. Como Constituinte, em 1946, defendeu a Emenda nº 3.165, que proibia a entrada no país de imigrantes japoneses de qualquer idade e procedência. Sua fonte de inspiração foi Josef Stálin, que sucedeu a Lenin. Com Stálin no comando da URSS, para consolidar a política de unificação do Estado, tudo valia. Problema, dizia, se resolve com a força, como fez com camponeses expulsando-os de suas terras e enviando-os a fazendas coletivas, cidades industriais e campos de trabalhos forçados. Proibiu a troca/venda de alimentos, estimando-se que, de 1932-33, 5 milhões de pessoas morreram de fome. Quem discordasse - agricultores, intelectuais, desleais ao PC - era “julgado” e fuzilado. Sarcástico, assistia aos “julgamentos”. Teria assinado a execução de 41 mil pessoas. No entanto, nada a ver com os vereadores Migue e Sônia (PC-B), democratas de berço.
O Tratado de Poncho Verde (Dom Pedrito) - que Gomes Jardim, governador da República Rio-Grandense (ou do Piratini), e Bento Gonçalves, líder, não assinaram - sob 12 artigos, nem todos cumpridos pelo Império (v.g. libertação dos escravos combatentes), pôs fim à Revolução Farroupilha, deixando-nos, como legado, a luta contra a injustiça. Daí por que a chama Farroupilha se renova ano após ano. Salve 20 de Setembro!

Ainda a Amazônia

A Guiana Francesa, na fronteira do Amapá, é um dos nove países da Amazônia e uma das três colônias na fronteira do Brasil. Hoje, duas são ex-colônias: a Guiana Inglesa, autônoma desde 1966, atual Guiana; e a Guiana Holandesa, autônoma desde 1975, atual Suriname. A Guiana Francesa continua colônia. Seus habitantes querem alforria, mas a França acha que o bom para eles é ser colônia. Macron e anteriores inspiram-se na Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Na Guiana Francesa, seus habitantes não têm acesso à terra e aos recursos naturais, mas, em meio à sua floresta, na Montanha de Ouro, Canadá e Reino Unido constroem monumental mina. Quer dizer, pimenta nos olhos dos outros é refresco. Porém, o presidente da França, temendo ter de retirar os subsídios à agricultura – teria sido aconselhado por líderes da esquerda brasileira a não assinar o acordo Mercosul e UE. Desqualificar nossa agricultura é sua estratégia. Ora, no forte das queimadas na Amazônia, a África tinha mais de 10 mil focos de incêndios. Mas só se falava das queimadas aqui. O presidente Bolsonaro, que começou apagando o fogo com gasolina, retomou o bom senso. A Amazônia parece terra de ninguém diante de incêndios criminosos, mais de 500 mineradoras atuarem na clandestinidade, ONGs não prestarem contas, povos da floresta estarem em conversão a seitas. Aliás, na pauta do Sínodo dos Bispos está a conversão ao catolicismo, violentando tribos que têm seus deuses na natureza e nos espíritos de antepassados.
Chama atenção o interesse da Europa pela Amazônia. Em 2005, a Abin alertava para a “falta de transparência” das ONGs. No jornal Estado de SP, o vice Mourão chamou atenção à “ambição disfarçada por filantropia” das ONGs. Augusto Heleno, da Abin, quando Comandante Militar da Amazônia, disse: “A Amazônia é um patrimônio do nosso povo, que saberá protegê-la das ameaças à floresta e reagirá àqueles que pretendem violar nossa soberania.” Ora, o 3º setor, representando por OSCIPs e ONGs, é importante. Falo com a responsabilidade de ter criado a Oscip/Musicanto e a presidido por 4 anos. Ocorre que OSCIPs prestam contas (ao Min. da Justiça); ONGs, não. Então, por um instante pense comigo - de espírito desarmado - em 15.000 ONGs na Amazônia.
O senador Plínio Valério (PSDB/AM) - morador da aldeia - denunciou a ONG Opção Verde, vinculada a holandeses, pela compra de 105 mil hectares de terras em Coari/AM, área rica em petróleo e gás. Ora, Santa Rosa tem 48.978 hectares (489.780 Km2). Quer dizer, a ONG holandesa tem mais de duas vezes (2,14) o território deste Município. Porém, a denúncia não repercutiu. Já Bolsonaro, na ONU, ao dizer que não serão ONGs nem estrangeiros a ditarem regras ao Brasil - atraiu a ira da grande mídia, de governos e ativistas ambientais. Destilam ódio, por maldade, ou são críticos que não ouviram nem leram o discurso - contra quem, autêntico, não repetiu sandices de seus antecessores.
No Regime Militar - o slogan Integrar para não Entregar -, o Brasil teve projeto de controle e integração da Amazônia. Se era imperfeito, o caminho seria aperfeiçoá-lo. No entanto, foi abandonado porque, para seus críticos, tudo quanto feito pelos governos militares tornou-se sinônimo de coisa ruim. Hoje, 25 milhões de habitantes da área, “protegidos” por ONGs, não têm, sequer, suas necessidades básicas atendidas.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A ética, a cultura e a benquerença perderam um ícone

Na semana passada, ao folhear os jornais do dia, soube da morte do Dr. Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Que perda! Tive a sensação de perder um familiar meu. As pessoas mais antigas de Santa Rosa conheceram o Dr. Ruy. As mais jovens, provavelmente não, exceto aquelas ligadas ao mundo jurídico. Eu que o conheci, registro, guardadas minhas limitações, que o ministro Ruy marcou época também em Santa Rosa. Natural de Iraí, na década de 1960, nesta cidade começou a trabalhar como secretário de Administração na gestão do prefeito Carlson; depois foi Advogado, Professor e Promotor de Justiça, afora ter atuado intensamente em ações comunitárias; no Rotary, inclusive.
Ruy, indicado pelo Ministério Público, foi desembargador do Tribunal de Justiça/RS, depois ministro do Superior Tribunal de Justiça. Aposentado, em POA passou a atuar no voluntariado. Ao ser detectada a doença que o levou a óbito, se recusou ser tratado na Santa Casa, da qual era vice-Provedor, por uma razão pouco comum: o temor de que, por essa ligação com a instituição, viesse a receber tratamento diferenciado. Isso tem nome: ÉTICA, valor tão escasso faz tempo. Que exemplo de vida! Que falta fará!
Tive o privilégio de ser aluno do professor Ruy, na cadeira de Direito Constitucional na ex-Fadisa, de Santo Ângelo, quando o deslocamento daqui à faculdade (60 km) era por ônibus, por estrada de chão, no qual viajavam alunos e mestres, entre estes o saudoso Ruy. Como professor, certa feita deu-nos um tema para pesquisa, valendo nota. Um dos colegas, que omito o nome, encontrou um parecer de outro mestre sobre o assunto. Imaginando que ninguém o conhecesse, o copiou “ipsis litteris”. O seu autor, que também omito o nome, ao término do trabalho, com certo pedantismo, sempre concluía seus pareceres com a expressão “Salvante melhor juízo, é meu parecer”. Pois o colega de curso copiou inclusive com o “Salvante ...” Ruy, ao ler a “pesquisa”, percebeu a farsa. Talvez indignado, mas sem perder o humor, consignou conhecer parecer e autor, concluindo com sua peculiar ironia inteligente: “Salvante melhor juízo, a nota é zero”.
Faz tempo que proponho que os filhos de Santa Rosa, naturais ou adotados, destaques fora daqui - e que são muitos, nem todos conhecidos - sejam homenageados quando de eventos locais: Musicanto e Fenasoja ou na Semana do Município. Também proponho que a homenagem se dê em vida. Esclareço: não estou sendo original. A ideia copiei de Cachoeiro do Itapemirim. Na terra de Roberto Carlos, inserido nos festejos do aniversário do município, a cidade capixaba criou “O Dia do Cachoeirense Ausente”.
O presidente Odaylson Eder, da ACISAP, no ano passado, acolheu minha sugestão de trazer para seu consagrado “Almoço de Ideias”, para palestrar, Nery Taborda da Silva - nascido no Laj. Paulino, criado na Vila Planalto - hoje diretor para a América Latina da Cia. Generali de Seguros. Quer dizer, um filho da terra que faz sucesso fora, que poucos sabiam. Santa Rosa, de tantas iniciativas pioneiras, tem essa lacuna a preencher.
Pedindo vênia pela omissão de Santa Rosa à importância do querido Ruy, apresento condolências pelo passamento desse santa-rosense ausente - usurpando prerrogativas do prefeito, mas sei que sem sua oposição - à esposa Diva, sua companheira de sempre; e aos seus filhos Ruy Neto, Juiz de Direito, Alice, Ana e Vera, esta nascida nesta cidade.