terça-feira, 8 de outubro de 2019

A ética, a cultura e a benquerença perderam um ícone

Na semana passada, ao folhear os jornais do dia, soube da morte do Dr. Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Que perda! Tive a sensação de perder um familiar meu. As pessoas mais antigas de Santa Rosa conheceram o Dr. Ruy. As mais jovens, provavelmente não, exceto aquelas ligadas ao mundo jurídico. Eu que o conheci, registro, guardadas minhas limitações, que o ministro Ruy marcou época também em Santa Rosa. Natural de Iraí, na década de 1960, nesta cidade começou a trabalhar como secretário de Administração na gestão do prefeito Carlson; depois foi Advogado, Professor e Promotor de Justiça, afora ter atuado intensamente em ações comunitárias; no Rotary, inclusive.
Ruy, indicado pelo Ministério Público, foi desembargador do Tribunal de Justiça/RS, depois ministro do Superior Tribunal de Justiça. Aposentado, em POA passou a atuar no voluntariado. Ao ser detectada a doença que o levou a óbito, se recusou ser tratado na Santa Casa, da qual era vice-Provedor, por uma razão pouco comum: o temor de que, por essa ligação com a instituição, viesse a receber tratamento diferenciado. Isso tem nome: ÉTICA, valor tão escasso faz tempo. Que exemplo de vida! Que falta fará!
Tive o privilégio de ser aluno do professor Ruy, na cadeira de Direito Constitucional na ex-Fadisa, de Santo Ângelo, quando o deslocamento daqui à faculdade (60 km) era por ônibus, por estrada de chão, no qual viajavam alunos e mestres, entre estes o saudoso Ruy. Como professor, certa feita deu-nos um tema para pesquisa, valendo nota. Um dos colegas, que omito o nome, encontrou um parecer de outro mestre sobre o assunto. Imaginando que ninguém o conhecesse, o copiou “ipsis litteris”. O seu autor, que também omito o nome, ao término do trabalho, com certo pedantismo, sempre concluía seus pareceres com a expressão “Salvante melhor juízo, é meu parecer”. Pois o colega de curso copiou inclusive com o “Salvante ...” Ruy, ao ler a “pesquisa”, percebeu a farsa. Talvez indignado, mas sem perder o humor, consignou conhecer parecer e autor, concluindo com sua peculiar ironia inteligente: “Salvante melhor juízo, a nota é zero”.
Faz tempo que proponho que os filhos de Santa Rosa, naturais ou adotados, destaques fora daqui - e que são muitos, nem todos conhecidos - sejam homenageados quando de eventos locais: Musicanto e Fenasoja ou na Semana do Município. Também proponho que a homenagem se dê em vida. Esclareço: não estou sendo original. A ideia copiei de Cachoeiro do Itapemirim. Na terra de Roberto Carlos, inserido nos festejos do aniversário do município, a cidade capixaba criou “O Dia do Cachoeirense Ausente”.
O presidente Odaylson Eder, da ACISAP, no ano passado, acolheu minha sugestão de trazer para seu consagrado “Almoço de Ideias”, para palestrar, Nery Taborda da Silva - nascido no Laj. Paulino, criado na Vila Planalto - hoje diretor para a América Latina da Cia. Generali de Seguros. Quer dizer, um filho da terra que faz sucesso fora, que poucos sabiam. Santa Rosa, de tantas iniciativas pioneiras, tem essa lacuna a preencher.
Pedindo vênia pela omissão de Santa Rosa à importância do querido Ruy, apresento condolências pelo passamento desse santa-rosense ausente - usurpando prerrogativas do prefeito, mas sei que sem sua oposição - à esposa Diva, sua companheira de sempre; e aos seus filhos Ruy Neto, Juiz de Direito, Alice, Ana e Vera, esta nascida nesta cidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário