sexta-feira, 18 de maio de 2018

OPERAÇÃO TARTARUGA

Os servidores municipais de Santa Rosa deflagraram a “operação tartaruga”, o que, grosso modo, significa que o servidor municipal que aderiu à operação, passou a realizar seu trabalho com redução da produção costumeira. O percentual de diminuição do trabalho é aleatório por não se subordinar a nenhuma regra fixa. Em suma, o servidor passou a atuar devagar. Em miúdos, o caso é eufemismo de greve.
No impasse municipal, quem tem razão? Sem conhecer a realidade da Prefeitura e dos servidores, tenho que ambos têm razão: os servidores, que buscam melhores condições de vida; o Executivo, que sabe onde aperta o sapato. Assemelha-se com a questão alimentar na relação parental com o consagrado binômio necessidade/possibilidade. Necessidade de quem pede. Possibilidade de quem paga.
Por outro lado, o prefeito - o mesmo vale para todos os gestores municipais brasileiros, os governadores dos Estados e do DF e o presidente – tem como defender posição contrária à concessão do aumento postulado pela classe, ainda que justo, ante a precariedade do erário público frente às múltiplas obrigações administrativas mensais. Já não terá a mesma condição para defender eventual atraso de salários.
A greve no serviço público está prevista na CF (art. 9º), mas é matéria dependente de regulamentação. Mas por que não foi regulamentada, passados 30 anos da promulgação da CF? Creio que a dificuldade maior está em estabelecer limites. Por exemplo, separar o serviço essencial, que não poderá parar, daquele não essencial. Ocorre que, feita a separação, a lógica determinará que os serviços não essenciais sejam extintos, e seus servidores, demitidos. Outrossim, o que é essencial para um segmento, pode não ser para outro. Patrolar estrada, pode não ser essencial para o cidadão urbano, mas é para o cidadão rural. Essencial para A, pode não ser para B.
Da última vez que o STF foi chamado a se pronunciar sobre um movimento paredista, decidiu, inclusive, pelo corte do ponto dos servidores em greve com os votos dos ministros Dias Tóffoli, Teori Zavascki, Luiz Fux, Lus Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Celso de Mello. Rosa Weber e Marco Aurélio Mello também foram contra a greve, sem, entretanto, o corte do ponto nos dias de paralisação.
Hoje, a posição do STF sobre o tema não se sabe qual é. É que dessa Corte – nomeada, como reiteradamente tenho denunciado, muito mais pelo critério político do que técnico - tudo se pode esperar, inclusive decisões acertadas como no caso da depuração do famigerado foro privilegiado.
No caso, a categoria deliberou pelo funcionamento de meio-período para creches, ensino fundamental e Cras; pelo atendimento sem “acolhimento” nos postos de saúde; que das máquinas rodoviárias, apenas uma de cada três funcionará. Ora, é evidente que essas restrições causarão transtornos à população, principalmente às camadas mais necessitadas. Logo, é um tiro que o Sindicato está dando no seu próprio pé.
Em apertada síntese, como diria Brossard, concluo perguntando: a operação tartaruga ou a greve no serviço público, deflagrada em qualquer das três esferas, é contra o chefe do Executivo? Não, é contra o povo. Logo, seria o caso do povo decidir.

MUSICANTO EM NOVA FASE (II)

Na edição anterior, escrevi sobre o Musicanto Sul-Americano de Nativismo em sua Nova Fase, ou seja, a realização do festival nativista orgulho dos santa-rosenses, nascido em 1983 quando prefeito o Erni Friderichs, agora, pela primeira vez, dentro da programação da Feira Nacional da Soja, no Parque Municipal de Exposições Alfredo Leandro Carlson. Esclareço que, no local, não foi a primeira vez realizado. Mas, concomitante com a consagrada Fenasoja, sim. Como é natural, foi uma experiência cercada de expectativa. Afinal, daria certo? Se não desse, mesmo assim se repetiria? O Musicanto, inserido na Feira Multissetorial, perdeu ou perderá sua essência?
Essas e outras questões fustigam a todos que gostam do Musicanto. Para mim, a parceria está aprovada, com louvor. Pequenas correções deverão ser feitas, o que, ao natural, se dará com o andar da carruagem. A 1ª resposta positiva é que o festival, graças a essa composição, foi viabilizado, e isso é fundamental para compositores do Brasil, Argentina e Uruguai (para referir apenas os Países que tiveram composições concorrendo nas noites de 27, 28 e 29/04) e para os aficionados da música.
O espaço em que se realizou o festival, embora não tenha as mesmas condições materiais e funcionais do Centro Cívico Antônio Carlos Borges, ofereceu, com suas mesas na área central, oportunidades para que os espectadores - principalmente nos intervalos entre uma música e outra ou entre um show e outro - interagissem, tomassem sua cerveja, refrigerante ou água e consumissem lanches, ainda que alguns excessivamente salgados. Ah, o que quase sempre em eventos dessa natureza é um problema, a sonorização no caso foi aprovada. Foi excelente, em que pesem as limitadas condições acústicas do barracão de eventos.
A vencedora do Musicanto/2018 foi “O Mundo é Um Samba”, de Thiago Suman, Guilherme Suman e Adriano Sperandir, defendida por Adrieli Sperandir (voz), Adriano Sperandir (Guitarra), Cristian Sperandir (teclados), Sandro Bonato (bateria), Caio Maurente (contrabaixo) e Bruno Coelho (percussão). Um dos seus versos, diz: “O Mundo é um samba/Que vem na contramão/É abrigo, é um vício, é tradição/É onde se nasce bamba/Desabrigando a solidão”. Não era a minha canção preferida, mas tendo sido a dos jurados e de outros, democraticamente devo recepcioná-la e aplaudi-la.
Destaque, ainda, para a composição representante da cidade no evento, a santa-rosense pura cepa “Colibri”, escolhida como a canção mais popular pelo público e premiada com o 3º lugar pelo júri. Parabéns aos seus compositores Vinícius Ribeiro e Laerte Ribeiro, principalmente ao Caroço pela vigorosa interpretação da canção. Ah, também não se pode esquecer os demais defensores: Darlan (acordeon), Spohr (violão), Chitolina (guitarra), Arthur (baixo), Borginho (percussão) e Cristian (teclado).
Passada a edição do Musicanto/2018, em que se comemora seu renascimento na medida em que, de cada evento, novas composições nascem, surge a notícia da morte de Mário Barbará. Registro, com pesar, o passamento do Marinho, que teve passagem marcante no 1º Musicanto com “Querência Maior”, dele em parceria com J. L. Vilella. Uma obra-prima. Mas foi com “Desgarrados” (Califórnia) que se consagrou.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

MUSICANTO EM NOVA FASE

O título é a síntese daquilo que o articulista quer dizer. Pelo menos, do que pretende dizer. Para o título do artigo de hoje, inicialmente pensei em Musicanto em Nova Formatação. Percebi, porém, que se falasse em formatação poderia ser (mal) entendido como defensor de mudança da concepção original do nosso festival maior. Portanto, Musicanto em Nova Fase acho que ficou mais adequado à mudança em curso, porquanto o evento orgulho dos santa-rosenses apenas deixou de ser realizado sozinho, com programação sua, independente, para se tornar evento parte da Feira Nacional da Soja, sem, todavia, que à consagrada Fenasoja se subordine. Maquiavel recomendava dividir para reinar. No caso, a receita é somar para crescer.
Enfim, estamos em pleno Musicanto, agora como parte da Fenasoja, mas sem perder sua essência. É uma novidade. É uma experiência. Mas tem tudo para dar certo. Acho que Fenasoja e Musicanto são eventos que podem se completar. Essa proposta não está pronta, acabada. Aliás, o Musicanto é um projeto em permanente construção. Somente daqui a duas ou três edições se terá uma radiografia da parceria.
A ideia de realização simultânea dos eventos, defendi nos primórdios do Musicanto, como lembrou o Luiz Carlos Borges em entrevista à Rádio Noroeste: “O meu compadre Aquiles Giovelli, que presidiu o Musicanto em quatro ocasiões, chegou a sugerir isso, só que não avançou, na época”. Tenho que a ideia de ontem é a mesma de hoje; as condições financeiras é que mudaram. Portanto, as dificuldades atuais estão unindo as pessoas e, pelo princípio da racionalidade, também os eventos.
Fenasoja e Musicanto realizados simultaneamente, somam. É como penso. Assim, estamos vivendo a 1ª experiência dessa união. Outras serão necessárias para um diagnóstico definitivo. Por ora, as dificuldades financeiras estão dando o tom, e, se for mantida a afinação revelada neste ano entre Fernando Kaiber (Musicanto) e Alexandre Maronez (Fenasoja), o resultado final será um renovado concerto.
O exemplo de parceria do Musicanto, um dos raros festivais sobreviventes do movimento da década de 1980 no RS, poderá se expandir. É que, dos quase cem festivais de música espalhados pelo Estado, apenas em torno de 10% resistiram. Todos que desapareceram foi pela falta de recursos financeiros. Como parte desses municípios que desativaram seus festivais nativistas também tem suas feiras, Santa Rosa abre a porta e inspira outros municípios a seguirem o exemplo de parceria.
Estamos em tempo de concerto musical e afetivo. Concerto pela qualidade e diversidade das canções classificadas, entre as quase 800 inscritas, em apresentação no novo palco. Afetivo porque proporciona o reencontro das pessoas identificadas com a promoção cultural através da criação artística. Com 24 canções, o Musicanto começou ontem, continua hoje e se encerra amanhã com a premiação das melhores.
No Parque de Exposições Alfredo Leandro Carlson, o Musicanto perde um pouco do seu glamour, mas ganha em acessibilidade e popularidade. No passado, fui criticado por lá realizar as 21ª e 23ª edições do Musicanto. Mas disso nunca me arrependi.
Vida longa para a parceria; eterna, de preferência. É o que desejo.

SUCESSO, ALBERTO BELTRAME!

Ter representante nos governo do Estado e/ou Central, conta muito. No passado, Santa Rosa teve Ariosto Jaeger. Não era santa-rosense nativo, mas aqui começou sua vida pública como vereador, depois deputado, secretário de Estado e, por fim, conselheiro do TCE. Na época, as demandas da Região eram estradas, escolas, telefonia, energia elétrica, repartições públicas para atendimento direto ao público - quase tudo conquistado com a decisiva participação do filho adotado pela terra. Mas os adversários não o levavam livre. À falta de argumentos sólidos, o desqualificavam por não ter hábitos abstêmios. De fato, consumia Whisky, Cachaça etc para além do que se convencionou ser socialmente aceitável. Mas o que afastou Ariosto da terra que adotara e dos seus eleitores da Região, foi o preconceito. Ainda nos anos 60, quando divorciar-se era pecado - ao menos para a igreja católica -, ele optou por outra mulher. Foi o suficiente para os moralistas massacrá-lo. Ariosto faleceu, faz pouco, esquecido, o que apenas prova que o poder é efêmero, e a fama, fugaz.
Sem ter nascido em Santa Rosa, Osmar Terra também foi na terra da Fenasoja, do Hortigranjeiro, do Musicanto e do Tape Porã que se armou cavaleiro para o peregrinar da vida política e administrativa do País. Deputado em seu 4º mandato, foi prefeito deste município, secretário de Estado de dois governos e, de 2016 até poucos dias atrás, ministro de Estado no governo Michel Temer.
Agora, entretanto, Santa Rosa atingiu o ponto mais alto do seu orgulho. Alberto Beltrame, nascido e criado na Rua Germano Dockhorn, Esquina com a Rua José Meneghetti, no Bairro Cruzeiro, nesta cidade, é o 1º filho da terra a assumir o cargo de ministro de Estado. Cargo disputadíssimo, lá chegou pela mão do Osmar Terra, é fato, mas o deputado do MDB só indicou seu colaborador para o posto pela certeza da capacidade, dedicação e experiência do indicado.
Alberto é médico, vocacionado para a coisa pública. É afável. Quando dirigia o Instituto de Cardiologia do RS, lá estive internado. O nosocômio, sob sua administração, saiu do estado falimentar para o estágio de excelência. Às vésperas de me submeter a uma cirurgia cardíaca, ele, que sequer me conhecia, me visitou para me tranquilizar. Esse é o lado humano pouco conhecido do ministro que entra para a história como o 1º santa-rosense nato em cargo do 1º escalão do governo federal.
Alberto, filho de Étore Alberto e Ivone, herdou do pai o gosto pela vida pública. Perspicaz e irônico, Étore foi vereador. Na época, foi comentado o discurso que fez na Câmara de Vereadores, então presidida pelo vereador Eduardo Batista, cabeleireiro de profissão. Homenageou a classe na pessoa do presidente do Legislativo como o homem da tesoura, fazendo gestos com os dedos indicador e médio da mão como se fossem partes do instrumento cortante. Já os seus adversários provocava dizendo que bastava o Ariosto anunciar a presença na Região para os companheiros do deputado entrarem “em cio”. Lembro ainda o trânsito político do pai do ministro. Vereador do PTB/MDB, foi eleito presidente da Câmara de Vereadores com os votos do PSD/Arena e com o apoio do prefeito Arno Pilz, PSD/Arena, seu ferrenho adversário político.