(Gazeta Regional, 16-12-17)
Muitas coisas me intrigam, e a ti
também, talvez sem perceber. Uma delas, o politicamente correto - aquele indivíduo que segue padrões
éticos, morais ou convencionais da sociedade - sobre o qual, para não ficar com
o conceito solto, volto ao início dos anos de l970 quando Gilberto
Carvalho/Aírton Pimentel criaram, para a Califórnia da Canção, de Uruguaiana,
“O Negro da Gaita”, canção imortalizada na voz de César Passarinho. Se
fosse hoje, para o politicamente correto, haveria protesto, salvo se o título
da música fosse “O Afrodescendente
da Gaita”, posto que a expressão original denegriria a raça. É, pois, a cartilha
do politicamente correto.
Saindo do politicamente correto, vou
focar outras duas expressões que se sobressaem entre as coisas que também me
intrigam, não necessariamente na ordem que as apresento: 1) a análise das pessoas ao invés da análise das suas ideias; 2) e a confissão de culpa seguida da expressão “me arrependo”. A primeira (ideia), pode
ser analisada do ponto de vista lógico
(ter um significado), do ponto de vista ontológico (existente no mundo real)
ou, ainda, do ponto vista transcendental
(mera possibilidade). A segunda (arrependimento), está ligada ao nível
de consciência para discernir entre o erro e o acerto e entre a falsidade e a
sinceridade do confitente.
Hoje, discute-se muito mais - o que mostra
atraso cultural e desprezo à voz da consciência - o autor da ideia, i. é., a pessoa que produziu determinada
representação intelectual, seja lógica, ontológica ou transcendental, do que
sua produção imaterial. É o
sentimento que extraio das discussões travadas no País, com desapreço às ideias
nessa correlação com seu autor. Já, em relação à culpa e ao arrependimento,
vejo um misto de confusão e falta de sinceridade. O embate político, então, é
um poço de contradições. Cultiva-se a ideia de que, quem é oposição, tem o
dever de ser contra tudo quanto venha do governo, e quem é situação, tem o
dever de apoiar incondicionalmente o governo, pouco importando, para quem está
de um lado ou de outro, se é bom ou ruim, e ambos mudando de lado com a mudança
dos ventos.
Quando ouço falar em arrependimento,
então, pergunto: é sincero? É, pois, a dúvida que me assalta. Não faz muito, L.
F. Veríssimo se disse arrependido de ter votado em Jânio Quadros. Confessou seu
voto como se fosse um pecado tão grave que só o Papa Francisco poderia
perdoá-lo. Bem, a explicação que o homem da vassoura deu para sua renúncia, as
tais “forças ocultas”, não convenceu nem seus mais ferrenhos defensores. No
entanto, eticamente, nada se apurou contra Jânio. Pois bem. O mais estranho é
que que Veríssimo se arrepende do voto dado a Jânio, mas não dos votos dados
para Lula. Aliás, ele já disse que o ex-presidente petista é vítima da
Lava-Jato. Coitado! Soa falso, portanto, o arrependimento do filho do Érico, porquanto o verdadeiro arrependimento, para ser
ético, importa mudança de conduta.
Eu votei em Collor. Arrependo-me,
assegurando que não repetiria o erro, e não que elle tenha sido, no curto tempo na presidência, mau governante. É
pelo que a Lava-Jato revelou sobre o senador alagoano: ser corrupto. Aliás, foi
pela ética que, naquele pleito, neguei apoio a Maluf, candidato do partido que
eu presidia em Santa Rosa.