quarta-feira, 25 de março de 2015

O DIA SEGUINTE

Parece consenso que, das eleições de 2014, emergiu um novo cenário político nacional, assim resumido: a) o Congresso Nacional, a partir de 2015, será diferente do atual; b) o país está dividido. A reeleição da Dilma foi assegurada pelo Nordeste e Norte, mais uma ou outra exceção. A Região Sul impingiu-lhe fragorosa derrota. A Região Sudeste, a exceção do RJ, também. Essa divisão, se não for contornada, poderá desencadear um processo separatista entre as regiões a favor e contra o modelo político atual. Já no Congresso Nacional, a presidente também não terá as mesmas facilidades que teve no mandato que se finda. No Senado, a oposição será mais combativa. Se é verdade que o governo vai se livrar de Simon (PMDB) e Taques (PDT), não é menos verdade que passará a ter contra si vozes mais contundentes: Lasier (PDT), Serra (PSDB), Jereissatti (PSDB), Caiado (DEM), Romário (PSB), além de outros com mandato em vigor. O mesmo se pode dizer em relação à Câmara dos Deputados. O PT elegeu 18 deputados a menos que em 2010, e o bloco de oposição está maior, e os partidos com representação na Casa passaram de 18 para 28. Em consequência, também no ponto a chefe do Executivo não terá o mesmo submisso Legislativo que tudo aprovou e, de quebra, blindou o governo nas denúncias de corrupção.
Em suma, a presidente, embora reeleita, terá pela frente: a) um país dividido quase ao meio; b) um Legislativo diferente daquele dos últimos 12 anos. Então, terá de remontar sua nova base parlamentar, e isso, inevitavelmente, vai se dar no balcão de negócios. Uma alternativa já testada será criar novos ministérios, ainda que para isso ultrapassem de 40 (redondos, 40, não, para não ser chamado o ministério Ali Babá). A esse passo, caso seja a opção, sugiro a criação do Ministério dos Derrotados. Afinal, não é do feitio do PT abandonar companheiros que, com o resultado das urnas, estarão na rua da amargura. Ah, eu sei, isso significaria mais despesas. Não importa. Nós, contribuintes, pelo quando pagamos e pelos serviços que recebemos, somos masoquistas. Então, um pouco mais de prazer na dor não fará diferença. Ademais, o “toma lá, dá cá”, não é para o bem do povo?
Mesmo com maioria no Congresso, Dilma enfrentará turbulência. Sem contar com a recessão econômica em curso, a matéria da revista Veja (29-10-14), se procedente, poderá desencadear um processo IMPEACHMENT. A presidente dizer que nada sabia sobre a Petrobras, estratégia que beneficiou o Lula no Mensalão, de nada valerá. É verdade que eventual pedido de Impeachment demandaria longo caminho: a) criação de CPI pela Câmara; b) aprovação de relatório em eventual incriminação por 2/3 da Casa; c) remessa do processo ao Senado para processamento. Portanto, ainda que viesse a ser apurada culpa da Dilma, o êxito seria improvável, exceto se surgisse pressão das ruas (reedição dos caras-pintadas). Ressalto, todavia, que não estou prejulgando a presidente. Aliás, nesta semana, ela tomou a atitude que estava devendo: determinou a apuração das denúncias na Petrobras, no que andou bem. Lembro, outrossim, que a matéria da Veja se assenta em depoimento do Yussef. Se mentiu, o doleiro, uma vez checadas as informações, perderá o benefício da delação, haja vista que, neste caso, funciona como inversão do ônus da prova, isto é, se o depoimento não se confirmar, o benefício é negado. Portanto, assim como não dá para condenar a Dilma, o Lula e outros no Petrolão, também não dá para dizer que a revista mentiu.
Por fim, a eleição de governador: embora Tarso seja intelectualmente superior a Sartori, nas urnas o RS derrotou a prepotência e premiou a humildade. O Tarso, por sua pregação, pareceu o inventor da roda. Ora, o Estado há décadas enfrenta séria crise financeira, a qual, neste governo, só se agravou. Mais que isso, um dado que condena o Tarso tal qual condenou o Olívio no caso Ford: o governador, quando ministro, criou a Lei do Piso do Magistério. Com isso, em 2010 se apresentou como o Messias dos professores. Só se esqueceu do dia seguinte. Como governador, não pagou o piso e renegou a lei. Importa concluir que a lei nascida sob sua inspiração fora mero engodo. Logo, entre o Piso do Tarso e a Tumelero do Sartori, o povo separou o estelionato de um (governador) da ironia do outro (governador eleito).


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