Em um regime democrático, é
inadmissível que algum assunto, mesmo explosivo, seja excluído da pauta de
discussões. Eu, só para exemplificar, sou radicalmente contrário à legalização
do aborto, mas nem por isso nego o direito, a quem discordar, de trazê-lo a
debate. Sobre o tema, sintetizo minha posição com a frase do ex-presidente dos
EUA, Ronald Reagan: “Todos que defendem o aborto já nasceram.” Entendo, e isso
é corolário da democracia, que quanto mais debatido for um tema mais luzes
serão lançadas sobre as pessoas na hora de decidir. Também não tenho nenhum
pejo em recuar e, até, mudar de opinião quando convencido de percorrer caminho
nebuloso.
Estabelecida essa premissa, entre os
assuntos que as denominadas esquerdas brasileiras não admitem discutir, está a
privatização. Em sendo a Petrobras, nem falar. Envoltas em contradição, elas
enxergam os adeptos das privatizações como inimigos da Pátria. A meu sentir,
duas questões contribuem à formação das ideias emitidas por estatizantes: a
uma, o viés ideológico, pelo qual o Estado tem o direito de tutelar tudo e
todos; a duas, a adoção de frases de efeito, superficiais, mas com peso de
dogma.
Para esses setores, privatização é
nome feio. Paradoxalmente, porém, são os mesmos que execram o Regime Militar,
ignorando que nenhuma época da história brasileira foi mais estatizante do que
aquela entre l964 e 1985. No período, foram criadas a Embratel, a Telebras, a
Embraer, as usinas de Itaipu, Tucuruí e Ilha Solteira. Mas não só. Durante os
governos militares, nenhuma privatização ocorreu. Todas se deram depois de
1985.
A meta de Collor era privatizar 68
empresas, mas só 18 saíram do papel. A 1ª, a Usiminas. Itamar privatizou a CSN,
a Açominas, a CSP, a Embraer e subsidiárias da Petrobras. Fernando Henrique
privatizou a Vale do Rio Doce, a Telebras e a Eletropaulo. Lula, através de
concessão (mera questão semântica), privatizou 2,6 mil quilômetros de estradas,
os bancos do Ceará e do Maranhão, as hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, as
linhas de transmissão Porto Velho e Araraquara e campos do pré-sal. Dilma, com
o mesmo subterfúgio, privatizou campos de pré-sal, estradas, portos e
aeroportos. E nenhuma das privatizações de FHC, tão criticadas pelos seus
sucessores, foi revertida.
No plano teórico, os graus de
seriedade e eficiência de uma empresa não estão na sua qualidade - pública ou
privada. Só que no Brasil, por uma questão cultural, as estatais, salvo
exceções, têm intimidade com empreguismo, corporativismo, ineficiência e
corrupção. Por outro lado, está provado que mesmo empresas públicas eficientes
podem melhorar quando transferidas à iniciativa privada. Exemplos: Vale do Rio
Doce e Embraer. Eficientes antes, mais eficientes depois.
Para não ficar só na Petrobras, a
empresa orgulho dos brasileiros que o petismo estatizante aniquilou em 12 anos,
lembro outra estatal de interesse direto de Santa Rosa: a Corsan. Presente na
cidade pelos próximos 20 anos, nos impõe tarifa cara para um serviço precário.
É que na renovação do contrato com a estatal gaúcha, faz cinco anos,
prevaleceram o interesse do sindicato da água (meia dúzia de sindicalistas), de
um lado, e a cartilha ideológica (Orlando, prefeito; Tarso, governador), de
outro. Já para os usuários, que deveriam ser a cereja do bolo, sobrou a salgada
fatura a cada mês.
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