quinta-feira, 10 de julho de 2014

A MORDIDA DO LUISITO SUÁREZ


A pena aplicada pela Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) a Luisito Suárez, astro da seleção do Uruguai, pela mordida em Chiellini, zagueiro da Itália, na partida pela Copa do Mundo em realização no Brasil, vencida pelo país vizinho, foi pesadíssima: nove jogos de suspensão pela seleção, quatro meses afastado de competições de futebol, inclusive como expectador, e multa pecuniária. Para a FIFA, o seu Tribunal - apêndice da entidade, constituído, à semelhança do STF atual, por amigos do presidente - aplicou pena exemplar. Mas pode alguém, sem moral, punir exemplarmente? Por isso, nem tanto pela condenação, já que, à exceção do Uruguai, ninguém alegou inocência do acusado, mas pelo tamanho do castigo, o mundo reagiu com indignação.

Luisito mereceu ser condenado. Ademais, não foi a 1ª agressão do gênero em campos de futebol. A questão está no exagero. Dois a três jogos, condicionado o retorno do atleta aos gramados à aprovação em exame de sanidade mental. O exame é exigência de ordem pública, tamanha a fúria na caçada que imprimiu a Chiellini no jogo do Uruguai contra a Itália, até alcançar e ferir o adversário. Mas a pena foi demasiada, friso, e o rigor máximo deve ser evitado. A propósito, já proclamava o Direito Romano: o máximo do direito (lei é fonte de direito) se converte no máximo da injustiça.

O caso Luisito envolve erro do árbitro, salvo pela utilização de imagens de TV. Ressalto o fato porque em outras copas, erros de árbitros ocorreram sob os olhares complacentes da Fifa e com os aplausos de muitos que hoje crucificam o craque uruguaio. Brasil e Argentina, para ficar só com dois países da América do Sul, campões de outros certames, se beneficiaram de erros grosseiros. Vamos aos casos:
- na Copa de 1962, no jogo Brasil x Espanha, Nilton Santos, lateral esquerdo da nossa seleção, cometeu um pênalti. O árbitro assinalou a infração. Mas como estava longe, o nosso lateral foi dando passos à frente até sair da grande área. O mediador, na dúvida, sinalizou fora da área, que deu em nada. Mas se fosse dentro da área, provavelmente seria convertida em gol, eliminando o Brasil da competição que o sagrou campeão pela 2ª vez;
 - na Copa de 1986, em que a Argentina foi campeã pela 2ª vez, Maradona, no jogo contra a Inglaterra, fez, com a mão, o gol que salvou o país. Depois, orgulhoso, confirmou a irregularidade, e o povo argentino passou a dizer que se tratava de La Mano de Dios (a Mão de Deus). Ao invés de ser censurado, Maradona foi transformado em herói;
- na Copa do Mundo de 2002, o nosso atacante Luizão foi derrubado fora da área, mas se arrastou até dentro das quatro linhas, induzindo o árbitro em erro. A infração, convertida em gol, foi decisiva para as pretensões da seleção brasileira;
- na Copa do Mundo em andamento, no jogo da nossa seleção contra a Croácia, Fred simulou um pênalti, que o árbitro da partida apitou. O atacante e o técnico brasileiros juram que foi pênalti. A infração inexistente foi decisiva para que a nossa seleção fosse adiante.

Os quatro casos relatos retratam infrações que, potencialmente, inverteram resultados naturais de competições. Porém, em todos é realçada a esperteza dos seus protagonistas, Nilton, Maradona, Luizão e Fred, pouco interessando que tenham ludibriado os árbitros e, com isso, prejudicado terceiros. Mas o gesto do uruguaio difere dos gestos dos brasileiros e do argentino. Luisito cometeu agressão física; Nilton, Maradona, Luizão e Fred cometeram agressões ao espírito esportivo. São, pois, dois os grupos de irregularidades: o 1º (uruguaio), atentado físico a uma pessoa; o 2º (brasileiros e argentino), atentados ao espírito esportivo mundial. A meu sentir, as agressões coletivas deveriam sofrer maior castigo. Mas não. Enquanto a malandragem é absolvida, às vezes enaltecida, a mordida é duramente castigada.

É o sinal dos tempos. É a inversão de valores. Zé Dirceu, Delúbio, Genoíno, condenados no maior escândalo de corrupção da história brasileira, foram, pele direção do PT, alçados à condição de heróis, enquanto Joaquim Barbosa, o ministro que teve a coragem de mandá-los para a cadeia, é, pelo mesmo grupo político, taxado de vilão.  

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