A pena aplicada pela Federação
Internacional de Futebol Associado (FIFA) a Luisito Suárez, astro da seleção do Uruguai, pela mordida em
Chiellini, zagueiro da Itália, na partida pela Copa do Mundo em realização no
Brasil, vencida pelo país vizinho, foi pesadíssima: nove jogos de suspensão
pela seleção, quatro meses afastado de competições de futebol, inclusive como
expectador, e multa pecuniária. Para a FIFA, o seu Tribunal - apêndice da
entidade, constituído, à semelhança do STF atual, por amigos do presidente -
aplicou pena exemplar. Mas pode alguém, sem moral, punir exemplarmente? Por
isso, nem tanto pela condenação, já que, à exceção do Uruguai, ninguém alegou
inocência do acusado, mas pelo tamanho do castigo, o mundo reagiu com
indignação.
Luisito mereceu ser
condenado. Ademais, não foi a 1ª agressão do gênero em campos de futebol. A
questão está no exagero. Dois a três jogos, condicionado o retorno do atleta
aos gramados à aprovação em exame de sanidade mental. O exame é exigência de
ordem pública, tamanha a fúria na caçada que imprimiu a Chiellini no jogo do
Uruguai contra a Itália, até alcançar e ferir o adversário. Mas a pena foi
demasiada, friso, e o rigor máximo deve ser evitado. A propósito, já proclamava
o Direito Romano: o máximo do direito (lei é fonte de direito) se converte no
máximo da injustiça.
O caso Luisito envolve
erro do árbitro, salvo pela utilização de imagens de TV. Ressalto o fato porque
em outras copas, erros de árbitros ocorreram sob os olhares complacentes da
Fifa e com os aplausos de muitos que hoje crucificam o craque uruguaio. Brasil
e Argentina, para ficar só com dois países da América do Sul, campões de outros
certames, se beneficiaram de erros grosseiros. Vamos aos casos:
- na Copa de 1962, no
jogo Brasil x Espanha, Nilton Santos, lateral esquerdo da nossa seleção,
cometeu um pênalti. O árbitro assinalou a infração. Mas como estava longe, o
nosso lateral foi dando passos à frente até sair da grande área. O mediador, na
dúvida, sinalizou fora da área, que deu em nada. Mas se fosse dentro da área,
provavelmente seria convertida em gol, eliminando o Brasil da competição que o
sagrou campeão pela 2ª vez;
- na Copa de 1986,
em que a Argentina foi campeã pela 2ª vez, Maradona, no jogo contra a Inglaterra,
fez, com a mão, o gol que salvou o país. Depois, orgulhoso, confirmou a
irregularidade, e o povo argentino passou a dizer que se tratava de La Mano de
Dios (a Mão de Deus). Ao invés de ser censurado, Maradona foi transformado em
herói;
- na Copa do Mundo de
2002, o nosso atacante Luizão foi derrubado fora da área, mas se arrastou até
dentro das quatro linhas, induzindo o árbitro em erro. A infração, convertida
em gol, foi decisiva para as pretensões da seleção brasileira;
- na Copa do Mundo em andamento,
no jogo da nossa seleção contra a Croácia, Fred simulou um pênalti, que o
árbitro da partida apitou. O atacante e o técnico brasileiros juram que foi
pênalti. A infração inexistente foi decisiva para que a nossa seleção fosse
adiante.
Os quatro casos relatos
retratam infrações que, potencialmente, inverteram resultados naturais de
competições. Porém, em todos é realçada a esperteza dos seus protagonistas,
Nilton, Maradona, Luizão e Fred, pouco interessando que tenham ludibriado os
árbitros e, com isso, prejudicado terceiros. Mas o gesto do uruguaio difere dos
gestos dos brasileiros e do argentino. Luisito cometeu agressão física; Nilton,
Maradona, Luizão e Fred cometeram agressões ao espírito esportivo. São, pois,
dois os grupos de irregularidades: o 1º (uruguaio), atentado físico a uma
pessoa; o 2º (brasileiros e argentino), atentados ao espírito esportivo
mundial. A meu sentir, as agressões coletivas deveriam sofrer maior castigo.
Mas não. Enquanto a malandragem é absolvida, às vezes enaltecida, a mordida é
duramente castigada.
É o sinal dos tempos. É
a inversão de valores. Zé Dirceu, Delúbio, Genoíno, condenados no maior
escândalo de corrupção da história brasileira, foram, pele direção do PT,
alçados à condição de heróis, enquanto Joaquim Barbosa, o ministro que teve a
coragem de mandá-los para a cadeia, é, pelo mesmo grupo político, taxado de
vilão.
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