segunda-feira, 5 de março de 2018

CADA UM POR SI, DEUS ...

“Cada um por si, Deus por todos”, é um adágio popular antigo, sem a certeza de onde e quando surgiu, nem quem o tenha cunhado. Sei que é vetusto, pois meu avô já o usava, que dizia tê-lo aprendido com seus antepassados. Nossa! No entanto, por refletir o momento brasileiro, continua mais atual do que nunca. Está, pois, incrustado em toda parte: nos três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário), nas entidades de classe etc. Aliás, a anomalia vive seu apoteótico momento, traduzida em: eu estando bem (egoísmo), os outros que se danem (indiferença com o semelhante).
Esse viés torto se disseminou e, pior, encontra guarida em tudo. No entanto, limito-me a um caso que se enraizou na vida das pessoas e consome fortunas: as tão disputadas, as nefastas mordomias. Seus usufrutuários, com aparência modesta às vezes, estão de pleno acordo com mudanças desse estado de coisas, desde que preservados seus privilégios. Ou seja, na casa dos outros, nem pensar; na casa própria, sim. Para o 1º grupo, mordomia é conquista; para o 2º grupo, é privilégio.
A materializar a “copa franca”, cito o Supremo Tribunal Federal, assim como poderia invocar outras instituições. A Corte Suprema tem uma frota de 87 veículos: 11 para os ministros (1 para cada ministro); 25 para os gabinetes; 51 para atividades diversas. Que beleza! Só com os salários, seus motoristas, em 2017, custaram R$ 3,7 milhões. Com combustível, pneus, consertos, as cifras, não reveladas, com certeza dobram.
A farra também não é só no STF, mas em todos os tribunais superiores (STF, TSE, STJ e STM). De comum entre eles, ainda, a nomeação dos seus membros ao alvedrio do Chefe da Nação. Pois bem, só com passagens e diárias, em 2017, consumiram quase R$ 6 milhões, assim: STF, R$ 1.588.000,00; TSE, R$ 1.437.000,00; STJ, R$ 1.366.000,00; STM, R$ 1.267.000,00. Isso é um escárnio em País que a saúde agoniza. É por isso que pagamos imposto de 1º mundo e temos serviço de 3º mundo.
Mas não só lá. A Câmara e o Senado, em 2017, tinham em torno de 16 mil servidores para 513 deputados e 81 senadores. Segundo a ONG Contas Abertas, no ano, o Congresso custou R$ 1.160.000,00 por hora (x 365 = R$ ...). A justificativa para tanta gastança é a democracia. Logo, tudo seria para o bem do povo. De fato, democracia é um regime político caro. Mas, que “mal pregunte”, precisa ser tão caro? Não. Custa tanto porque uns poucos usufruem vantagens ao arrepio da ética e da lei.
Mas, quando o tema é mordomia, para que não se mire apenas Brasília como Ilha da Fantasia, a bem da verdade é preciso dizer que essa praga está, de igual forma, nos municípios e nos estados (executivos, legislativos e judiciário). A esperança é que um dia a “vaca barrosa” seque. Mas isso não vai acontecer como castigo dos deuses, não; só acontecerá se todos que execram privilégios exercerem a cidadania, começando por arredar a máxima da política brasileira de que companheiro não tem defeito.
Parafraseando o gaúcho (de Rio Grande) Barão de Itararé, batizado e registrado Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, jornalista, mestre em ironizar ricos, classes média e pobre, digo: “Restaura-se a legalidade ou nos locupletemos todos.” Sim, porque mordomias e outras coisas mais ..., sempre para os mesmos, não tem graça.

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