sexta-feira, 8 de junho de 2018

REFLEXÕES SOBRE A GREVE

Falar que a greve dos caminhoneiros, que teve início segunda-feira dia 21/05, paralisou o Brasil, e que essa paralisação afetou a economia nacional, causou transtornos para a sociedade e sacrificou a todos, mas de modo especial as pessoas mais necessitadas, seria apenas repercutir uma obviedade. Por isso, saindo um pouco dos editoriais e das manchetes da mídia, vou suscitar algumas questões que se colocaram fora da curva dos movimentos dessa natureza, a saber: (1) a força dos caminhoneiros; (2) o despreparo do governo para enfrentar crise desse jaez; (3) as redes sociais sobrepondo-se aos sindicatos; (4) a ausência de lideranças político-partidárias nos protestos; (5) a opção que fez o País pelo transporte rodoviário; (6) o contraditório apoio das prefeituras e dos estados ao movimento; (7) a presença nos pontos de protesto de faixas pedindo intervenção militar; (8) a continuidade do movimento paredista após atendidas as reivindicações da categoria.
Seguindo a ordem suscitada, vou me permitir breve análise de cada questão, sem minimizar a complexidade da greve. Nesse emaranhado de coisas, algumas nem tão claras, na raiz está o petróleo, produto que o Brasil exporta para, depois, importar gasolina. Por quê? Porque a Petrobras não se aparelhou para o refino, e gerida politicamente, foi usada como instrumento de corrupção por inescrupulosos. Indo ao ponto: (1) a categoria mostrou uma força que nem ela sabia ter. A adesão ao movimento foi muito além do que projetara; (2) o despreparo fez o governo refém dos paredistas; (3) os sindicatos e associações de transportadores firmaram um acordo com o governo, quando parte da pauta das reivindicações foi atendida. Os caminhoneiros, no entanto, se recusaram a desobstruir as estradas. Eles, através das redes sociais, se distanciaram das suas entidades. As redes sociais mostraram ser a nova força que supera a dos sindicados; (4) a classe política foi enxotada do movimento. Os grevistas não aceitaram que oportunistas desfraldassem suas bandeiras. Quer dizer, tal qual o governo e os sindicatos, os políticos estão por baixo; (5) o transporte rodoviário foi opção dos governos na década de 1970 por conveniência econômica. No entanto, de lá para cá, os governos que sucederam o período Militar, nada diferente fizeram. Hoje, dizer que foi uma política equivocada, é simplificar o problema. Urge, sim, que o modal ferroviário seja retomado; (6) o apoio dos governos municipais e estaduais ao movimento, que se assentava na supressão de impostos (Cide, Pis-Cofins e ICMS) sobre o diesel, impacta as receitas municipais e estaduais. Logo, um apoio contra si dos prefeitos e governadores ao movimento que foi estancado, como era previsto, com a redução de receitas municipais e estaduais; (7) o pedido de intervenção militar revela a descrença nos governos civis, atual e anteriores; (8) a manutenção da greve após atendidas as reivindicações, mostra que, além dos prejuízos com a paralisação (no caso, bilhões de reais), os grevistas “usaram” pessoas e entidades na busca de interesses estranhos à categoria.
P.S. Presidente que perde o controle das ruas, perde as condições de governar. Assim foi com Getúlio, Goulart, Figueiredo e Dilma. Agora, a bola da vez é Temer.

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