segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

TODOS CONTRA A LAVA-JATO

      O título deste comentário é apocalíptico. Logo, espanta as pessoas que trabalham, pagam impostos e cumprem seus deveres. Enfim, atemoriza aqueles que, com espírito desarmado, longe de paixões, não prestam culto à personalidade. Pelo contrário, querem o Brasil passado a limpo. Porém, a meu sentir, políticos do Executivo e Legislativo, com raras exceções, se pudessem liquidariam a Operação Lava-Jato a despeito das juras de amor que lhe fazem, do tipo: “a Lava-Jato é um marco histórico”; “a Lava-Jato é um divisor de águas entre antes e depois dela”; “a Lava-Jato é um patrimônio ético do Brasil”. A bem da verdade, a Lava-Jato é o calcanhar de Aquiles (não o meu) dos políticos brasileiros. A exceção existe, sim, mas apenas para confirma a regra. São contra a Operação os ex-presidentes Sarney, Collor, Lula e Dilma; o presidente Temer; os presidentes dos partidos Gleisi (PT), Jucá (PMDB), Aécio (PSDB), Lupi (PDT), Agripino (Dem), Ciro (PP) etc; ex-ministros de Lula, Dilma e Temer; vários ministros do atual presidente.
      São pequenos atos, às vezes imperceptíveis, às vezes nem tanto, que confirmam a assertiva. Por exemplo, as nomeações da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e do diretor-geral da PF, Fernando Segovia, ambos pelo PMDB. Um pouco antes, para a vaga no STF com a morte de Teori Zavascki, a nomeação de Alexandre de Morais, de notório saber jurídico, sim, porém, pela bancada pelo PSDB. Aliás, o critério de nomeação de ministros dos tribunais superiores é outra chaga que compromete a imparcialidade do Judiciário. Na mesma toada, no Congresso tramitam projetos claramente de retaliação: a) revisão da Lei de Abuso de Autoridade, em verdade, mordaça a delegados de polícia, a procuradores de justiça e a juízes; b) alteração da Lei de Colaboração Premiada proibindo delações por pessoas presas, sendo certo que, sem as prisões, bandido não confessa por apostar na impunidade; c) alteração da Lei da Ficha Limpa tornando-a inaplicável aos crimes de corrupção anteriores ao mandatos dos atuais deputados e senadores.
      Enfim, os fatos antes relatados - sem esgotá-los, é claro - se destinam a abafar a Lava-Jato. É que, no jogo político, nem tudo é o que parece ser. A dissimulação é uma constante. A propósito, L.F. Veríssimo, notável escritor mas, também, sempre pronto a conceder salvo conduto ao PT, assegurou, para perplexidade de quem defende a ética e a igualdade de todos perante a lei, que a Lava-Jato se prestou, até aqui, para culpar um homem inocente. Não declinou o nome. Nem precisava. Referia-se a Lula. Por traz da máscara de um belo texto, o escritor destilou seu ódio à República de Curitiba.
No Brasil, verdade seja dita: as elites política e empresarial condenam a Lava-Jato. Há, ainda, um 2º grupo a combatê-la, às vezes sem perceber: a dos inocentes úteis. Por fim, tem-se os fanáticos: aqueles que acusam Temer de corrupção, mas inocentam Lula e Dilma, e vice-versa. Por isso, a Lava-Jato, que revelou a maior organização criminosa do Brasil de todos os tempos, corre o risco de morrer na praia, tal qual a Mãos Limpas da Itália. Em causa própria, às vezes de forma dissimulada, inimigos se juntaram pela mesma causa: sepultar a Operação.

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