segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

FESTIVAIS NATIVISTAS

       Depois de três anos inerte, a Califórnia da Canção Nativa voltou, e bem. Sua 40ª edição, em Uruguaiana, deu-se no Teatro Municipal Rosalina Pandolfo, de 8 a 10 deste mês. Como era de se esperar, foi festejado o retorno do festival responsável pela disseminação de dezenas de festivais nativistas pelo RS, a partir dos anos de 1970. Registro, ainda, que nas quatro décadas seguintes de intensa criação musical, não faltaram problemas. Parafraseando seu Agenor lá do meu Lajeado Cerne, em Santo Ângelo, depois da “febre arta” uns festivais sumiram e outros agonizam. Felizmente, alguns estão ressurgindo. Neste grupo estão Califórnia e Musicanto.
Em Uruguaiana, vi Sílvio Genro - compositor com ligações culturais (Musicanto) e afetivas (Os Costeiros) com Santa Rosa, com a canção “Um Homem, um Cavalo e um Cachorro” - ganhar a Calhandra de Ouro. No evento, Sílvio chamou a atenção, por dois motivos: 1) pela canção que compôs; e 2) por subir ao palco do festival de terno, ao invés da bombacha; de sapato, ao invés de bota; de gravata, ao invés de lenço ao pescoço - em festival em que a pilcha gaúcha é o traje por excelência. Mas não foi metamorfose, não; foi a forma original, democrática, dele protestar.
Explico: Sílvio compôs sua canção endereçada para a Linha Campeira, mas os jurados a colocaram na Linha de Manifestação Rio-Grandense. Aliás, é sinuca de bico para os jurados de festivais a divisão em “linhas” (Regulamento). Na Califórnia, são: 1) Campeira; 2) Manifestação Rio-Grandense; 3) Livre. É que, às vezes, uma tênue linha separa as linhas, quando não, as linhas se cruzam. Enfim, uma cabeça, que não a do autor, define o destino da canção. No Musicanto, eu sempre resisti à ideia da separação em linhas. Vozes Rurais (regional) e No Sangue da Terra Nada Guarani (universal) atestam que - num mesmo festival, sem linhas - composições com temáticas diferentes não se excluem; pelo contrário, se completam, se complementam.
        O futuro dos festivais continua a preocupar. Para mim é incerto. Saltou aos olhos, em Uruguaiana, um problema que não é “privilégio” da Califórnia; não, pelo contrário, é comum aos festivais nativistas: a ausência de jovens. No Teatro Rosalina Pandolfo, o número de bengalas superou o número de pessoas dos 18 aos 25 anos. Isso denota a falta de renovação, a acender a luz amarela de tantos quantos cultuam o nativismo. Hoje, apenas o sertanejo - que de sertanejo tem pouco - tem público cativo.
           A Califórnia creio estar pensando seu futuro. O Musicanto aposta no Musicanto Vai à Escola, através do qual difunde as canções do próprio festival entre as escolas da cidade. Muito interessante! No entanto, não tem se mostrado suficiente à motivação de estudantes. Talvez falte espaço a esse público no palco do festival. Enfim, Uruguaiana, Santa Rosa e outras promotoras de festivais precisam (re)inventar uma fórmula capaz de evitar que, com o desaparecimento dos idealizadores dos festivais nativistas, desapareçam, também, as ideias que colocaram o RS no mapa do Brasil.
Califórnia e Musicanto são Patrimônio Cultural do RS. É, pois, o reconhecimento ao legado cultural desses festivais nativistas até aqui. Mas, e o futuro? Os decretos, sem medidas que os implementem, serão apenas decretos. A incerteza ronda os festivais.

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