segunda-feira, 20 de agosto de 2018

A VIDA EM PRIMEIRO LUGAR

Interesses antagônicos entre consumidores de alimentos e a indústria química, sempre existiram. O que mudou entre a discussão de hoje e aquela de 30 anos atrás, é o nível de consciência dos problemas que os venenos aplicados nas lavouras causam aos seres vivos. Nesse embate estão, de um lado, os pesquisadores preocupados com a vida, e de outro, a indústria preocupada com o lucro, fazendo, inclusive, apelos simpáticos do tipo “sem defensivos, a humanidade morrerá de fome”.
A conta do uso de produtos para “não morrermos de fome”, já chegou. As abelhas - operárias sem salário e sem férias - segundo Relatório da Plataforma Intergovernamental de Serviços Ecossistêmico e Biodiversidade, para as culturas dependentes de polinização por insetos contribuem com 35% dos alimentos do mundo; mas não são poupadas. As frutíferas também. Vou focar uma, até bem pouco cultivada em todas as propriedades rurais: a parreira. Durante décadas fomos abastecidos por uva e vinho aqui produzidos. Porém, pela ação dos “defensivos”, os parreirais foram dizimados. Eu mesmo tinha 20 videiras no pátio da casa. Eliminei-as.
Pior: estudo do Laboratório de Geografia Agrária da USP comprovou que a Região Noroeste/RS ostenta dois títulos nada honrosos: 1) campeã no uso de agrotóxicos; 2) campeã de pessoas com câncer. Há, pois, títulos que orgulham e títulos que envergonham. O Brasil, a comprometer ainda mais o meio ambiental, ainda permite ou, pelo menos, tolera: 1) o uso de agrotóxicos proibidos no mundo; 2) a pulverização próxima a casas, mananciais etc. O vilão, sem chance de metamorfose para mocinho, é o glifosato. Pelo uso desse princípio ativo, a Monsanto foi condenada em R$ 1,1 bilhão ao jardineiro (EUA) Johnson, acometido de Linfoma Não Hodgkin relacionado ao RoundUp. No caso, a Justiça colocou a vida em 1º plano. Portanto, ponto para ela pelo precedente. O homo sapiens é protagonista do bem, mas também do mal. No caso, a Monsanto foi condenada porque omitiu, nas embalagens, que o glifosato é cancerígeno. No Brasil, além dessa omissão, a multinacional nega o efeito deletério.

Por outro lado, é sabido que a questão referente ao uso de agrotóxicos é de interesse coletivo, porquanto relacionada à qualidade dos produtos consumidos, à segurança, à saúde dos consumidores e à conservação do meio ambiente. Então, sugiro aos rurícolas que guardem as embalagens dos agrotóxicos empregados em suas lavouras. Elas, um dia poderão servir de prova a instruir ação indenizatória contra os inescrupulosos fabricantes que tem, como único órgão sensível, o próprio bolso.

Atualmente, a Câmara Federal discute a regulação dos agrotóxicos. Pelo projeto, o registro de novos produtos, hoje a cargo da Anvisa e Meio Ambiente, passaria ao MAPA. A matéria confronta ambientalistas e ruralistas. O debate está pautado pelo viés ideológico. Eu, independente de quem devesse autorizar novos produtos agrotóxicos, proponho que o Governo, diante da importância da agricultura para o País, invista na pesquisa de defensivos naturais - via Embrapa -, que já existem e combatem pragas sem prejudicar a ninguém. No entanto, sem investimento financeiro (humano, a estatal tem) nossa empresa não terá como competir com a Monsanto.

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