quinta-feira, 2 de maio de 2019

NO PÚLPITO, NÃO!

Sou Católico de berço. Era na casa dos meus pais, em Lajeado Cerne, S. Ângelo, que os padres, quando celebravam missas mensais, se deliciavam com as comidas da saudosa Zelinda. Menino, fui coroinha. Por inocência, ingenuidade, temor, sei lá, para mim na época padre e Deus se confundiam. Adolescente, estudei com educadores religiosos - Irmãos de La Salle, formando-me professor. Nomeado pela SEC, assumi em Lª Paca Norte, Campina das Missões, onde, embora forte a descendência russa (Igreja Ortodoxa), funcionava uma capela católica, cabendo-me dirigir o culto semanal.
Enojado com o ativismo político e atos imorais de próceres da Igreja, dela me afastei. Mas, revendo seus 2.000 anos do vida, concluí que: 1) a longevidade se deve ao liame com o Espírito Santo; 2) a Igreja não são padres e bispos indignos da Estola. Então, ‘despacito’ voltei. No sábado13, fui à missa na Paróquia de Cruzeiro quando, perplexo, ouvi o Pe. Orides no sermão dizer: “O ‘Deus Acima de Tudo’ (leia-se Bolsonaro) deles, não é nosso Deus; eles usam Deus para promover a violência”. E sobre a Previdência: “Essa Reforma serve os ricos e castiga os pobres”. E concluiu: “O problema se revolve cobrando devedores” (os termos podem variar; o conteúdo, não).
O Pe. Orides, ao incursionar no recôndito da consciência do Bolsonaro - que usaria Deus para fazer o mal - se ungiu do poder Divino, e sobre a Previdência, se arvorou “expert”. Nos dois casos, seria soberba? Não creio. Não conheço o padre na sua inteireza bíblica, mas o conheço o suficiente para dizer que é pessoa do bem. Por isso, prefiro crer que seu discurso reproduz ordem de cima, o que ameniza mas não o absolve, posto que, ainda que correto fosse, é inaceitável no sagrado Púlpito da igreja.
A Reforma da Previdência é tema complexo. Pior: mexe com interesses corporativos. O certo é que, em decorrência de aposentadorias precoces, milionárias, que a reforma propõe cortar, mais a roubalheira de gestores e a longevidade de inativos, o sistema quebrou. Já, sobre devedores, é ingenuidade achar que basta cobrar. Ora, o estado democrático de direito assegura ao devedor ampla defesa. Ademais, em geral são devedores falidos. Aliás, a mesma simplória solução foi proposta por candidatos a governador em 2018. Portanto, tanto para a Previdência quanto para o Tesouro/RS é proposta ingênua ou tendenciosa. Explico: sei de empresa que, com capital de R$ 2 milhões, deve R$ 25 milhões de ICMS. Poderá o RS contar com este dinheiro? Não.
Pe. Orides: é direito seu defender ou condenar ações de governo, mas não no local símbolo da presença de Deus: o Púlpito. Os fiéis não querem proselitismo político na Igreja, quer a favor, quer contra; querem participar do ritual de expiação da Divindade. Portanto, dia 13 fui vítima (eu+150) de estelionato religioso, sem direito a contraponto.
Por outro lado - não sei se é o seu caso, Pe. Orides - na Região Noroeste/RS, autoridades eclesiásticas priorizam a Teologia da Libertação, a qual, na essência, para amparar os pobres, demoniza o capital. Ou seja, tal qual Marx, incita à luta de classes. O Dr. Justino Girardi, expert da Doutrina da Igreja, a respeito, diz: “Para nós, católicos, é sempre trágico conviver com divisões, quando o ideal deveria ser a união. Por isso deveriam ser evitadas as dissensões que desfiguram a pessoa de N. Sr. Jesus Cristo.”

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