quarta-feira, 7 de agosto de 2019

O filho não, presidente!

Certas coisas não podem ser feitas, ainda que não tenham óbice legal. Para Tancredo Neves, não se nomeia quem não se pode demitir. A máxima mineira me veio à mente com o anúncio do presidente Jair Bolsonaro da nomeação de seu filho, Eduardo, Embaixador nos EUA. É que, embora servidores em cargos de confiança sejam sempre demissíveis ad nutum, no caso criaria um problema familiar. Já, no mérito, o presidente incide na política velha. Mas como toda moeda tem dois lados, dessa nomeação vou realçar seu lado positivo, qual seja, trazer à baila assunto que tem passado batido: o papel de embaixadas. Do limão, limonada. Pois bem. O Brasil é o país da América Latina com o maior número de embaixadas no exterior. São 138, sendo 44 instaladas no governo Lula, algumas em países que poucos ouviram falar: Botswana, Malawi, Belize, Omã, Díli, Burindi, Lesoto, Palau, Kiribati, Vanuatu. Dessas 44, Bolsonaro desativou cinco: Antígua e Barbuda, São Cristóvão e Névis, Dominica, São Vicente e Granadinas e Granada. Com a criação (44) e, agora, redução (cinco), mudou alguma coisa para o Brasil? Não. Outrossim, cada embaixada custou ao País, de 2008/2017, R$ 9 milhões.
A criação de embaixadas na era Lula, tendo à frente o ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, foi para satisfazer a vaidade do ex-presidente: ter assento no Conselho de Segurança da ONU, posição que, para o Brasil, nada mudaria. Mas, acerca do funcionamento de embaixadas, o que me leva a indagar, é: no mundo globalizado, com as comunicações colocando em contato pessoas que residem em pontos extremos do Planeta, ainda se justificam? E o ministério das Relações Exteriores, para que serve? Ora, tal como acontece com órgãos estaduais regionais (educação, saúde etc), perderam a razão de ser. Ademais, seu custo é absurdo. Com um orçamento superior a R$ 2,2 bilhões, o ministério das Relações Exteriores gasta por ano, só com servidores das embaixadas, R$ 800 milhões; outros R$ 400 milhões são gastos com manutenção dessas estruturas. Mas não só: o ministério das Relações Exterioresembora caixa-preta, como revelou a Folha de SP, em 2014, o aluguel da casa do embaixador Guilherme Patriota, irmão do então ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota, em Nova York, custava ao país a “bagatela” de R$ 54 mil/mês. Outro desperdício: em Roma, na Itália, em área nobre, o Brasil mantém duas embaixadas: uma na Piazza Navona, num suntuoso prédio com teto banhado a ouro, outra, pertinho, no Vaticano.
Por outro lado, as questões afetas às nossas exportações (soja, milho, arroz, café, carne, minério, calçados) são tratadas pelo ministro brasileiro de cada área com seus colegas de outros países e/ou pelas entidades representativas de cada setor produtivo. Quer dizer, não dependem de embaixadas. Portanto, se desativadas - mantendo uma, quem sabe, por Continente - permitiriam dispensar mais de 100 prédios, 1.565 diplomatas, 1.613 oficiais-chanceleres e assistentes, 441 servidores, terceirizados, impostos etc. Ora, governar é fazer opções. A minha sugestão (opção) coloco em discussão: desativar esses órgãos caros e inertes e priorizar educação, saúde ... Ah, sei! Desativar órgãos públicos é crime - embora cabides de emprego. Ademais, são “patrimônio histórico”, pois nossa 1ª representação no exterior é de 1824 (Washington).

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