terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A INCONFIDÊNCIA DO MUGICA

Em passado recente, escrevi vários artigos sobre o Mansalão, escândalo que culminou com a condenação de José Dirceu e outros. A tese acusatória prevalente para o caso foi a teoria do domínio do fato. Do processo, no entanto, uma coisa espero um dia entender: a ausência de Luiz Inácio Lula da Silva no rol dos denunciados. A meu sentir, o ex-presidente merecia ser investigado, sim. Mas o Procurador-Geral, titular da ação, assim não entendeu. Por outro lado, sei que meus artigos sobre o rumoroso caso foram rechaçados pelos defensores incondicionais do Lula, para os quais “companheiro não tem defeito” e adversário, “se não têm rabo, ponha-se um de palha”.
Devo dizer que não me alinho a nenhuma das duas máximas. Ambas têm cheiro de fascismo. A propósito, quando da 1ª eleição para presidente da República após a redemocratização do Brasil, em que concorriam ao cargo Mareio Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Collor (PRN) e outros, eu militava no PDS. Na época, o país inteiro sabia que Maluf era corrupto, ainda que sem condenação, como é compreensível, porque os corruptos são precavidos e não confessam seus crimes. Então, mesmo sendo Maluf o candidato do meu então partido, abri dissidência em favor de Collor pelo motivo óbvio: a falta de condições morais do Maluf para exercer a chefia da Nação. Entendia, e assim continuo, que a fidelidade partidária não se sobrepõe à voz da consciência Por isso, coordenei a campanha do Collor na Região. Depois me arrependi, mas não pela recusa em apoiar o candidato do meu partido na época.
Voltando ao tema, está ficando cada vez mais difícil Lula negar seu envolvimento no Mensalão. Outrossim, a gênese do Petrolão está no escândalo anterior, e os dois, no mesmo governo. Agora, inclusive, surgiu um fato novo: a palavra do ex-presidente do Uruguai. José Mugica, no livro “Una Oveja Negra Al Poder”, sobre seus cinco anos de governo, dedica um capítulo às conversas dele com o ex-presidente brasileiro, em que Lula confidenciou que precisou “lidar com coisas imorais” mas que era a “única forma de governar”. Ora, confessar práticas imorais é admitir que os fins justificam os meios. E para quem os fins justificam os meios, justificar o Mensalão é café pequeno (nada a ver, é claro, com Claírton Martin).
Admiro Mugica, não de agora. É exemplo de seriedade e coerência. Sem nunca sequer me passar pela cabeça que Lula lhe tivesse feito alguma confidência, sob o título Mugica é o Cara, em 07-03-2015, registrei neste espaço do jornal: “José Mugica, ex-Tupamaro, encerrou seu mandato tão pobre quanto antes de assumir a presidência do Uruguai. Seu legado: 1) o discurso na ONU em defesa do meio ambiente; 2) a liberação da maconha como contraponto ao fracasso das políticas repressivas; 3) o espírito público, que tanto falta a políticos brasileiros; 4) a humildade – nada de seguranças, de aviões para lá e para cá, inclusive para familiares e amigos às custas dos contribuintes.”
O Brasil está sendo passado a limpo graças a homens da estatura moral de Joaquim Barbosa (o ministro do Mensalão) e de Sérgio Moro (o juiz do Petrolão), com o apoio da Polícia Federal. A inconfidência de José Mugica às confidências de Luiz Inácio Lula da Silva é combustível inflamável a um passo de explodir.

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